quarta-feira, 29 de setembro de 2010

GLADIADORES E UM POUCO DE PALMAS TOCANTINS



































































Dos 21 anos que a capital, Palmas, completa hoje desde que teve sua pedra fundamental lançada, acompanhei pouco mais que 19. É muito tempo, muito chão, muita poeira ao vento antes de chegar à cidade em que vivemos. Cada pessoa que passou por aqui, sonhando, desejando e construindo um pouco deste futuro imaginado antes e vivido hoje, deixou uma contribuição. Mas neste maio de 2010, mais de 20 anos depois, o que pergunto é: que cidade é esta que todos nós fizemos? Será que é justa e acolhedora? Afinal, esta Palmas tão grande e cara aos cofres públicos e aos seus moradores, caminha para onde?
Roberta Tum
Nacim Borges
Palmas, vista da JK: muita história em 21 anos
A história de uma cidade é a história de vida das suas pessoas. Misturada à história dos lugares. Aos marcos, aos grandes acontecimentos coletivos, às vitórias individuais. A cidade é o sonho de muitos, e o fruto da mistura das ações de todos. A cidade não são os prédios, nem os jardins, mas a vida que habita e dá sentido a eles.
Começo assim as reflexões deste editorial de hoje, 20 de maio de 2010 para colocar em debate o destino, o futuro, o rumo que a nossa Palmas está tomando, e vai tomar nos próximos anos. Fiz ontem uma entrevista com o prefeito Raul Filho (PT), que está à disposição dos internautas neste dia de aniversário. E minha última pergunta a ele foi qual o maior desafio que o gestor da capital enfrenta hoje.
Excepcionalmente Raul não falou em recursos financeiros, mas no desafio de manter uma cidade tão grande funcionando. Limpa, bem cuidada, com a oferta dos serviços básicos aos quais todo cidadão tem direito. Quando eu cheguei, o problema da expansão exagerada da cidade ainda não existia, embora o Plano Diretor já previsse que ela cresceria, e para onde.
O crescimento desordenado
As quadras poderiam ter sido abertas, vendidas e habitadas dentro de um planejamento estruturado, de forma a tornar os investimentos públicos em infra-estrutura, e a implantação dos aparelhos públicos mais inteligente, prática, barata. Mas não foi o que aconteceu. A cidade foi crescendo, “esticando”, sem preencher os imensos vazios urbanos criados dentro dela. Uns por interesses econômicos de grandes empresas, que receberam e mantiveram desocupados os lotes adquiridos em dação de pagamento. Outros por simples falta de atenção dos gestores públicos, que assim permitiram que fosse, sem discutir e planejar o amanhã.
No começo, tudo era poesia. A poeira ao vento de que falei no início, e nós andando por aí no trânsito com máscaras de pintor para poder respirar, enquanto as máquinas trabalhavam, abrindo e preparando ruas e avenidas sob a nuvem da fina poeira que se misturava ao céu. Ver a Theotônio Segurado e a JK sendo asfaltadas. Ver Taquaralto crescer e Taquaruçu de certa forma encolher em atenção e importância. Ver o primeiro poste de iluminação pública ser instalado, na gestão do prefeito Eduardo. Tudo isto teve sabor especial para quem pode viver.
Palmas das nossas saudades
Na Palmas das nossas saudades tinha o Canela com seu balneário na chegada, seus bares com mesas de sinuca e cerveja sempre gelada, seus velhos moradores, e casas antigas perdidas nas águas que o lago cobriu. Tinha também a praia da Graciosa verdadeira (nome dado pelo velho Iberê Barroso), e seus shows para 60 mil pessoas. Sua noite já foi tomada pela magia do Bar Número 1 onde Malba Costa cantava, ou do Fazendinha onde ricos e loucos se encontravam, logo depois pelo Alquimia, pelo Paco, e tantos outros.
A Palmas dos restaurantes onde se entrava na fila com o prato na mão e o governador se servindo ao lado ficou lá atrás nos idos do início da década de 90. E vieram as grandes obras, muita gente chegando, e as escolas, e universidades. Vieram os aventureiros, e foram-se muitos aventureiros. Nasceram os pequenos supermercados, que viraram redes de médio porte, e que agora quebraram com a chegada dos super, hiper, mega mercados.
A violência e a desigualdade
E a cidade virou esse monstro enorme e sem alma, onde crianças e adolescentes sem ocupação e sem saída usam crack. Onde se mata no trânsito, no abuso da velocidade nas grandes avenidas em que jovens e adultos pisam no acelerador, embriagados pela fuga da solidão. Palmas das milhares de igrejas. Palmas dos milhares sem casa, por mais que se construam unidades habitacionais com dinheiro do PAC e de outros programas sociais.
Para onde esta Palmas vai? Me arrisco a dizer que vai para o caos, como todas as outras cidades que cresceram sem que seus donos tomassem posse delas. Vai para a violência urbana, e toda a sorte de desajustes sociais. Tudo isso por que de repente ela não é mais a cidade da Roberta, do Márcio di Pietro, do Thênis Pinto, da Mônica Avelino, da Sônia Miranda, do Cobal, do Walterson, do Ernani Siqueira, do Sândalo Bueno, do Toin da Jaime Câmara, do seu Guilherme, do Padre Rui, do Teske, ou da Leila da Feeetins entre milhares de outros cidadãos comuns que eu poderia citar.
A cidade é de todos e ao mesmo tempo de ninguém, por que está à deriva. Por conta única e exclusivamente das autoridades. Estas cumprem ao máximo que podem - umas com maior, e outras com menor empenho – suas obrigações. Mas para decidir para onde vai esta cidade, é preciso que sua gente a abrace. Desde a dona Maria e seu Joaquim, anônimos agricultores no pé da serra, até os honrados moradores dos bairros populares da cidade, que não querem ver sua vida tragada pela criminalidade como o Rio de Janeiro vive, refém nas suas periferias.
Resgatando a cidade
Aos 21 anos de idade Palmas tem jardins, lago, cachoeiras. Mas está perdendo a pureza, o volume e a riqueza de seus mananciais. Tem gente demais, e cuidado de menos. Tem muitas demandas sociais, e poucos recursos para atendê-las. A Palmas de hoje é mais imponente do que sonhei há 19 anos, porém, bem menos humana. Bem menos solidária. Bem menos estimulante e empreendedora do que já foi e do que poderia ser.
Nesta data o que desejo de fato, é que o povo de Palmas, de certa forma resgate esta cidade. Assuma esta cidade. Discipline a vida nesta cidade. Ela é jovem, e ainda pode ser tudo o que quiser na vida. Ou melhor: tudo o que nós quisermos que ela seja. Vamos juntos assumir a responsabilidade de fazê-la melhor nos próximos 20 anos que virão.

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