sábado, 25 de setembro de 2010

FLORESTAS FLUVIAIS....

Assim como mata ciliar e floresta ripária, floresta fluvial é uma denominação aplicada às florestas que ocorrem na beirada de rios. Apesar de estarem situadas nas margens dos cursos de água, essas formações têm características sensivelmente distintas conforme as paisagens em que se encontram: em encostas íngremes ou em planícies.As florestas que ladeiam os rios de encostas apresentam praticamente a mesma estrutura e composição de espécies que aquelas que se encontram no restante da rampa, pois os solos que as sustentam não estão sujeitos a flutuação do nível do lençol freático. Para este caso, o clima é o grande condicionador das características fitotípicas que enseja mudanças importantes nas espécies presentes.No entanto, para as florestas de planícies, além do clima, existem outros condicionantes, tais como atributos geomorfológicos e pedológicos. Com o objetivo de melhor compreender a composição da vegetação, é importante que se faça a distinção destas de acordo com o padrão de leito fluvial, em razão da pluralidade existente dos atributos mencionados. Deve-se ressaltar que o padrão de leito é determinado em decorrência da interatividade do clima com as características do arcabouço geológico e estes deflagram a manifestação de relevos e solos de planície.Nas margens de rios com padrões de leito retilíneo e meandrante encaixado são encontradas florestas fluviais com espécies muito semelhantes àquelas que se encontram nas encostas em função de não estarem propensas a períodos de inundação. Em planícies construídas sob padrões meandrante divagante, entrelaçado e anastomosado, as florestas são enriquecidas por espécies adaptadas aos períodos prolongados de saturação hídrica dos solos, provocados pelas enchentes. Nestas planícies coexistem solos hidromórficos e não-hidromórficos, ocupando feições geomórficas com diferentes altimetrias dentro da mesma planície. Nas planícies mais rebaixadas, especificamente sobre os solos hidromórficos, são observadas espécies com modificações anatômicas e morfológicas, tais como hipertrofia lenticelar, aerênquima e raízes adventícias, adaptações que lhes permitem maior tempo de sobrevivência à saturação hídrica. Em feições geomórficas mais soerguidas, sobre solos não-hidromórficos, é encontrado um menor número de espécies adaptadas às enchentes, resultando, assim, em um mosaico fitofisionômico característico das florestas em planícies fluviais. Assim sendo, depreende-se que, a despeito do clima ser o grande motivador para alterações na diversidade florística e estrutural, relevo e solo também determinam estas modificações.Sob o ponto de vista funcional, as florestas fluviais apresentam uma série de atribuições que variam em tipo e intensidade, em coerência com a paisagem onde estão inseridas e ecossistemas com que interagem. Independente de sua posição, se em encosta ou em planície, determinam a proteção de recursos hídricos, regularizando os fluxos de água, sedimentos e nutrientes, contribuem para estabilidade térmica, sobretudo, de pequenos cursos d´água, além de entre outras funções, concretizar corredores ecológicos, garantindo a dinâmica da pluralidade biológica. Fato interessante é o de que, independentemente da menor riqueza arbórea das florestas fluviais de planície sujeitas ao alagamento, esta fitotipia contem maior diversidade epifítica (plantas que usam árvores como suporte) em função da maior luminosidade e umidade existentes nestes ambientes, compensando, de certa forma, a simplificação arbórea. Analogamente, esta maior riqueza em epífitas também é observada em ambientes fluviais inseridos em encostas íngremes.Por conta das inúmeras funções, em paisagens onde não estão mais presentes, ou mesmo quando se encontram ralas e fragmentadas, as florestas fluviais devem ser recuperadas a fim de reconstituir um dos pilares da evolução da biodiversidade. Sua restauração deve ser feita com espécies nativas e, sempre que possível, com elevado número de espécies, respeitando as características adaptativas destas. Assim, nas ações destinadas à recuperação das florestas fluviais de planícies, entre tantos outros encontrados na literatura, deve-se observar alguns quesitos, tais como: em superfícies de degradação implantar espécies arbóreas de pequeno porte com sistema radicular profundo com a finalidade de promover maior estabilidade aos diques marginais; usar espécies com rápidas reações morfoanatômicas, o que lhes permite um maior tempo de sobrevivência, bem como as capacita a diminuir a velocidade do caudal, minimizando o potencial erosivo fluvial. Deve-se atentar ainda para, em superfícies de agradação, utilizar espécies que possuam estratégias adaptativas como a mergulhia, o que lhes possibilita funcionar como um retentor de sedimentos, além de promover maior estabilidade aos depósitos de sedimentos em pontas-de-barras. Sobretudo, deve-se considerar como as espécies são adaptadas aos diferentes regimes hídricos de solos (não-saturados e saturados), o que definirá sua sobrevivência nos períodos de enchente, justificando tempo, recurso e mão-de-obra empregados pelo produtor.Para as florestas de encostas, deve-se procurar compensar as suas larguras e densidades de indivíduos considerando o declive da rampa de forma interativa à profundidade e a textura dos solos. Assim, como exemplo, rampas muito íngremes, conjugadas a solos rasos e arenosos devem conter larguras e densidades mais elevadas do que em encostas menos declivosas, com solos profundos e argilosos. Outro quesito importante é a possibilidade do uso de espécies arbóreas que possuam sistema radicular superficial vigoroso, tipo sapopema, o qual aumenta a rugosidade da superfície, diminuindo o transporte de água, sedimentos e íons pelas enxurradas em direção ao rio.Em função das suas características, sobretudo em razão das suas funcionalidades ecológicas, as florestas fluviais assumem extrema importância, tanto no contexto ambiental como social. Reconhecidas pela sociedade, foram incorporadas ao Código Florestal Brasileiro, passando a constituir uma forte noção patrimonial atribuída pelo Direito, na forma de Áreas de Preservação Permanente - APPs. No entanto, a despeito da legalidade jurídica, é importante o reconhecimento da importância desta fitotipia por parte da sociedade e que este seja convertido em ações sólidas na preservação e/ou recuperação destas formações.AUTORIAGustavo Ribas CurcioEngenheiro AgrônomoMestre em Ciências do SoloDoutor em Engenharia Florestal Pesquisador da Embrapa FlorestasAnnete BonnetBiólogaDoutora em Engenharia Florestal

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