Parábola do gato e o rato
relatada por Zimmer em Filosofias da Índia, a partir do MahabharataCerta feita um gato montês e um rato habitavam a mesma árvore na selva; o rato morava num buraco da raiz e o gato nos galhos, onde se alimentava de ovos de pássaros e de filhotes inexperientes. O gato também gostava de comer ratos, mas este de nosso conto conseguia manter-se fora do alcance de suas garras.
Um dia veio um caçador e armou habilmente uma rede sob a árvore e, naquela noite, o gato ficou preso em suas malhas. O roedor, contente, saiu de seu esconderijo e experimentou um prazer enorme ao andar em volta da armadilha, mordiscando a isca e tirando o máximo proveito daquela situação. Logo se deu conta de que dois outros inimigos haviam chegado: um pouco mais acima, entre a escura folhagem da árvore, pousar uma coruja de olhos resplandecentes prestes a lançar-se sobre ele, enquanto que por terra se aproximava, sorrateiramente, um mangusto. O rato, sem saber o que fazer, maquinou com rapidez um surpreendente estratagema. Dirigindo-se ao gato disse-lhe que o libertaria, roendo as malhas, se antes lhe permitisse entrar na rede e abrigar-se em seu colo. Mal o outro concordou, o pequeno animal, aliviado, foi para dentro da rede.
Todavia, se o gato esperava ser salvo de imediato sofreu uma grande decepção, pois o rato aninhou-se confortavelmente em seu corpo, escondendo-se de modo a fugir dos olhares atentos de seus dois outros inimigos; e então, uma vez seguro em seu refúgio, decidiu tirar uma soneca. O gato protestou mas o rato disse que não havia pressa. Ele sabia que poderia safar-se a qualquer instante e que a seu contrariado hospedeiro só restava ser paciente, na esperança de obter a liberdade. E então, o roedor falou francamente ao seu inimigo natural que iria esperar pelo caçador. Desse modo, o gato também estando ameaçado, não aproveitaria sua independência para apanhar e devorar seu libertador. O felino nada pôde fazer; seu pequeno hóspede cochilou bem no meio de suas garras. O rato esperou tranqüilamente a chegada do caçador e, quando viu o homem aproximar-se para examinar as armadilhas, cumpriu sem risco sua promessa roendo as malhas com rapidez e pulando em sua toca, ao passo que o gato, num salto desesperado, escapuliu e alcançou um galho, livrando-se da morte certa.
Depois que o frustrado caçador afastou-se carregando sua rede inutilizada, o gato desceu da árvore e, aproximando-se à morada do rato, chamou-o docemente, convidando-o para sair e reunir-se ao seu velho companheiro. Disse-lhe que a situação em que se viram envolvidos na noite anterior já havia passado e a ajuda que cada um prestara tão lealmente ao outro, na luta em comum pela sobrevivência, havia consolidado uma união duradoura que apagava todas as diferenças anteriores. Dali em diante, os dois seriam amigos para sempre, baseando-se numa confiança mútua. Porém, o rato mostrou-se cético e inarredável diante da retórica do gato; recusou-se terminantemente a sair do abrigo seguro em que estava. Uma vez terminada a situação paradoxal que os havia colocado juntos numa estranha e temporária cooperação, não havia palavra que pudesse persuadir o arguto animalzinho a se achegar a seu inimigo natural. Para justificar sua recusa aos galantes mas insidiosos sentimentos do outro, o rato pronunciou a fórmula destinada a servir de moral ao conto.
Disse, franca e diretamente: “No campo da batalha política não existem coisas como uma amizade perdurável.”
Fábula do leão, o gato e o rato
relatada por Zimmer em Filosofias da Índia, a partir do Hitopadeia
Certo gato miserável, expulso pelos aldeões e vagando pelos campos a ponto de morrer de fome, magro e desvalido, foi encontrado por um leão e salvo de sua situação desesperadora. O rei dos animais convidou o infeliz a compartir sua caverna e se alimentar das sobras de suas abundantes refeições. Porém, este não era um convite inspirado pelo altruísmo ou por algum senso de lealdade racial; era simplesmente porque o leão estava sendo molestado por um rato que vivia num buraco de sua toca. Quando ele tirava a sesta, aquele vinha e lhe roía a juba. Acontece que os leões grandes e poderosos são incapazes de caçar ratos; em contrapartida, gatos ágeis o são; desse modo, ali estava a base para uma amizade sólida e talvez agradável.
Bastou a presença do gato para manter o rato afastado, e assim o leão poder dormir em paz. O pequeno roedor não fazia o menos barulho porque o gato estava sempre alerta. O leão premiava seus serviços com farta alimentação engordando, sem delongas, seu ministro.
Mas um dia o rato fez um ruído e o gato cometeu o erro fatal de agarrá-lo e devorá-lo. Desaparecido o rato, desapareceu também o favor do leão que, já cansado da companhia do gato, sem nem mesmo lhe agradecer, devolveu seu competente ministro à selva, onde teria que enfrentar novamente o perigo de morrer de fome.Máxima final: “Cumpre tua tarefa, mas sempre deixes algo por ser feito. Através desse algo permanecerás indispensável.”
relatada por Zimmer em Filosofias da Índia, a partir do MahabharataCerta feita um gato montês e um rato habitavam a mesma árvore na selva; o rato morava num buraco da raiz e o gato nos galhos, onde se alimentava de ovos de pássaros e de filhotes inexperientes. O gato também gostava de comer ratos, mas este de nosso conto conseguia manter-se fora do alcance de suas garras.
Um dia veio um caçador e armou habilmente uma rede sob a árvore e, naquela noite, o gato ficou preso em suas malhas. O roedor, contente, saiu de seu esconderijo e experimentou um prazer enorme ao andar em volta da armadilha, mordiscando a isca e tirando o máximo proveito daquela situação. Logo se deu conta de que dois outros inimigos haviam chegado: um pouco mais acima, entre a escura folhagem da árvore, pousar uma coruja de olhos resplandecentes prestes a lançar-se sobre ele, enquanto que por terra se aproximava, sorrateiramente, um mangusto. O rato, sem saber o que fazer, maquinou com rapidez um surpreendente estratagema. Dirigindo-se ao gato disse-lhe que o libertaria, roendo as malhas, se antes lhe permitisse entrar na rede e abrigar-se em seu colo. Mal o outro concordou, o pequeno animal, aliviado, foi para dentro da rede.
Todavia, se o gato esperava ser salvo de imediato sofreu uma grande decepção, pois o rato aninhou-se confortavelmente em seu corpo, escondendo-se de modo a fugir dos olhares atentos de seus dois outros inimigos; e então, uma vez seguro em seu refúgio, decidiu tirar uma soneca. O gato protestou mas o rato disse que não havia pressa. Ele sabia que poderia safar-se a qualquer instante e que a seu contrariado hospedeiro só restava ser paciente, na esperança de obter a liberdade. E então, o roedor falou francamente ao seu inimigo natural que iria esperar pelo caçador. Desse modo, o gato também estando ameaçado, não aproveitaria sua independência para apanhar e devorar seu libertador. O felino nada pôde fazer; seu pequeno hóspede cochilou bem no meio de suas garras. O rato esperou tranqüilamente a chegada do caçador e, quando viu o homem aproximar-se para examinar as armadilhas, cumpriu sem risco sua promessa roendo as malhas com rapidez e pulando em sua toca, ao passo que o gato, num salto desesperado, escapuliu e alcançou um galho, livrando-se da morte certa.
Depois que o frustrado caçador afastou-se carregando sua rede inutilizada, o gato desceu da árvore e, aproximando-se à morada do rato, chamou-o docemente, convidando-o para sair e reunir-se ao seu velho companheiro. Disse-lhe que a situação em que se viram envolvidos na noite anterior já havia passado e a ajuda que cada um prestara tão lealmente ao outro, na luta em comum pela sobrevivência, havia consolidado uma união duradoura que apagava todas as diferenças anteriores. Dali em diante, os dois seriam amigos para sempre, baseando-se numa confiança mútua. Porém, o rato mostrou-se cético e inarredável diante da retórica do gato; recusou-se terminantemente a sair do abrigo seguro em que estava. Uma vez terminada a situação paradoxal que os havia colocado juntos numa estranha e temporária cooperação, não havia palavra que pudesse persuadir o arguto animalzinho a se achegar a seu inimigo natural. Para justificar sua recusa aos galantes mas insidiosos sentimentos do outro, o rato pronunciou a fórmula destinada a servir de moral ao conto.
Disse, franca e diretamente: “No campo da batalha política não existem coisas como uma amizade perdurável.”
Fábula do leão, o gato e o rato
relatada por Zimmer em Filosofias da Índia, a partir do Hitopadeia
Certo gato miserável, expulso pelos aldeões e vagando pelos campos a ponto de morrer de fome, magro e desvalido, foi encontrado por um leão e salvo de sua situação desesperadora. O rei dos animais convidou o infeliz a compartir sua caverna e se alimentar das sobras de suas abundantes refeições. Porém, este não era um convite inspirado pelo altruísmo ou por algum senso de lealdade racial; era simplesmente porque o leão estava sendo molestado por um rato que vivia num buraco de sua toca. Quando ele tirava a sesta, aquele vinha e lhe roía a juba. Acontece que os leões grandes e poderosos são incapazes de caçar ratos; em contrapartida, gatos ágeis o são; desse modo, ali estava a base para uma amizade sólida e talvez agradável.
Bastou a presença do gato para manter o rato afastado, e assim o leão poder dormir em paz. O pequeno roedor não fazia o menos barulho porque o gato estava sempre alerta. O leão premiava seus serviços com farta alimentação engordando, sem delongas, seu ministro.
Mas um dia o rato fez um ruído e o gato cometeu o erro fatal de agarrá-lo e devorá-lo. Desaparecido o rato, desapareceu também o favor do leão que, já cansado da companhia do gato, sem nem mesmo lhe agradecer, devolveu seu competente ministro à selva, onde teria que enfrentar novamente o perigo de morrer de fome.Máxima final: “Cumpre tua tarefa, mas sempre deixes algo por ser feito. Através desse algo permanecerás indispensável.”
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