Se as mulheres já conquistam espaço desde a década de 60 e disputam oportunidades no mundo corporativo com os homens, elas passaram a desbravar também outras possibilidades. Segundo institutos de pesquisa nacionais e internacionais ligados ao empreendedorismo, as mulheres já começam a empreender mais. No Brasil, dados do GEM 2007 (Global Entrepreneurship Monitor), estudo do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e do IBQP (Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade), apontam que, pela primeira vez, 52,4% dos novos negócios (com até 42 meses de criação) estão sob controle de mãos femininas.
O resultado da pesquisa indica um grande salto da presença das mulheres na população empreendedora do país e caracteriza uma mudança histórica, já que os homens sempre lideraram o ranking. Em 2001, por exemplo, eles representavam 71% e, em 2006, houve uma queda para 56,2%. Já em 2007, de cada 100 brasileiras, aproximadamente 13 estavam envolvidas em atividades empresariais. Estes índices colocaram o Brasil na sétima posição do ranking mundial de empreendedoras, composto por 42 países, com 7,7 milhões de mulheres à frente de negócios. (Clique e confira a lista completa de países e suas posições).
Para traçar esse perfil, o GEM Brasil realizou um levantamento domiciliar junto à população brasileira de 18 a 64 anos. "Nesta edição, utilizamos uma mostra representativa de 2.000 pessoas. Cada um dos representantes respondeu um formulário composto por cerca de 100 questões abertas e fechadas", explica a coordenadora do estudo, Simara Greco.
Também foram realizadas entrevistas com 36 especialistas em empreendedorismo para identificar fatores que auxiliam ou dificultam a atividade empreendedora no país. O estudo complementou suas informações com dados de instituições nacionais, como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Ministérios do Trabalho, o Ministério da Educação, além de institutos internacionais como o Fundo Monetário Internacional e a Unesco (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura). "Procedimentos similares foram adotados pelos outros 41 países, que integram o projeto GEM", diz Simara.
Para o professor de empreendedorismo do IBMEC São Paulo Dirk Thomaz Schwenkow, o aumento da participação das mulheres à frente dos negócios já era de se esperar, até porque elas já se destacavam no mundo acadêmico e no mercado de trabalho. "Esse foi um movimento natural do desenvolvimento feminino e das mudanças sociais do século XXI. Hoje, esse fenômeno é uma tendência internacional", aponta ele. No ranking mundial elaborado pelo GEM, à frente do Brasil com (12,7%), por exemplo, estão Peru (26,6%), Tailândia (25,95%), Colômbia (18,77%), Venezuela (16,81%), República Dominicana (14,5%) e China (13,47%).
No entanto, o professor de empreendedorismo e inovação da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas de São Paulo), Tales Andreassi, acredita que ainda é muito cedo para dizer que esse avanço feminino é uma tendência. "É a primeira vez que as mulheres saem na frente dos homens. Pode ser que isso não venha a se repetir nos próximos estudos, já que o resultado da pesquisa pode ser o reflexo de uma ação momentânea", alerta.
Necessidade ou oportunidade?
Sendo ou não uma tendência, os principais motivos que atraem as mulheres para o mundo do empreendedorismo ainda giram em torno das necessidades financeiras. De acordo com a pesquisa, apenas 37% das empreendedoras investem num negócio para aproveitar uma oportunidade de mercado, contra 63% que vislumbram o sustento. Entre os homens os percentuais são bem distintos: 64% abrem um negócio para aproveitar um nicho de mercado, em relação aos 38% restantes que o fazem por necessidade.
Na opinião de Simara Greco, os empreendimentos por necessidade são mais freqüentes entre as mulheres porque muitas delas precisam conciliar as atividades domésticas e o cuidado com o negócio. "Por ser uma atividade mais flexível, o empreendimento se torna uma atividade secundária para elas e uma forma de complementar a renda", afirma. Simara ressalta, ainda, a forte presença das mulheres como chefes de família. "Elas também são responsáveis pelo sustento da família e vêem no empreendedorismo mais uma possibilidade de complementar a renda", acrescenta.
Outro motivo que tem levado o sexo feminino a empreender mais é a discriminação salarial do mercado de trabalho. Basta analisar os resultados do estudo divulgado pelo IBGE, em março deste ano, com base na Pesquisa Mensal de Emprego das seis principais regiões metropolitanas brasileiras. Segundo o levantamento, as mulheres recebem, em média, 30% menos do que os homens. "Por isso, a opção pelo empreendedorismo tem sido uma saída para elas buscarem melhores resultados financeiros", aposta Schwenkow.
O fato de as mulheres estudarem mais, como aponta o GEM Brasil 2007 - 60% têm 11 anos ou mais de estudo, enquanto entre os homens o índice é de 52% -, também se reflete no aumento do índice do empreendedorismo feminino. "Apesar de a maioria delas ainda não ter o Ensino Superior, elas estão mais preparadas educacionalmente do que os homens", acredita Simara.
Para Tales o sucesso da mulher no mundo empreendedor também está relacionado à maior liberdade que ela tem em arriscar. "Por ter menos a perder e por ser menos cobrada pela sociedade, as brasileiras se sentem mais livres para correr riscos", relata. No caso dos homens, o professor afirma que a cobrança social tem um peso maior. "Muitos deles são chefes de família e pensam duas vezes antes de sair do emprego para tentar algo novo", compara o professor.
Segundo especialistas, algumas características femininas, inclusive, se sobressaem às masculinas e favorecem o espírito empreendedor. "As mulheres são mais intuitivas, preocupadas com o cliente, flexíveis, além de terem um relacionamento interpessoal melhor, nível de confiança maior e poder de comunicação mais eficaz. Os próprios estudos internacionais comprovam isso. Esses fatores, obviamente, são um diferencial favorável a elas", enfatiza o professor do IBMEC São Paulo.
O assessor da diretoria técnica do Sebrae - SP, Renato Fonseca de Andrade, afirma que, embora as mulheres do Brasil empreendam mais por uma questão de necessidade, elas têm um grande potencial para empreender por oportunidade. "Quanto mais o país se desenvolver, mais o sexo feminino terá a oportunidade de ingressar no empreendedorismo para atender um nicho de mercado. Isso é uma questão de tempo", arrisca o consultor.
Sobrevivência no mercado
Apesar de a mulher ter superado a participação do homem nos empreendimentos de estágio nascente e nos empreendimentos novos, ela permanece em desvantagem quando o assunto é negócio estabelecido, ou seja, empreendimentos com mais de 42 meses de criação. O GEM Brasil 2007 identificou que o sexo feminino tem apenas 38% de participação, contra 62% do masculino.
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