sexta-feira, 31 de maio de 2013


CINEMA

Os cinco melhores filmes 

lançados em Cannes

Uma intensa história de amor lésbico, uma ode à música folclórica, um retrato 

da violência na China, e a história de uma prostituta adolescente são alguns dos

 enredos revelados em Cannes que valem a pena


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1.  A Vida de Adéle
Baseado no romance de Julie Maroh sobre uma adolescente que se apaixona 
por uma mulher um pouco mais velha, o filme vencedor da Palma de Ouro 
(prêmio de melhor filme), do diretor franco-tunisiano Abdellatif Kechiche,
 é uma obra avassaladora sobre o despertar sexual, a autodescoberta e
 corações partidos.
O longa cobre seis anos na vida de Adèle (interpretada por Adèle Exarchopoulos), 
uma jovem tranquila de 17 anos que mora com os pais em um bairro de classe
 média nos arredores da cidade francesa de Lille. O catalisador da trama ocorre 
quando Adéle conhece a atraente Emma (Léa Seydoux), uma estudante de
 pós-graduação lésbica e artista, de cabelos azuis, que vem de uma carinhosa
 família burguesa. O filme é uma confirmação de que Kechiche, com seu
 interesse em pessoas que vivem às margens da França moderna (imigrantes
 do Norte da África e suas crianças, jovens do interior da cidade, e, agora, 
 gays, lésbicas e bissexuais), é o maior observador do comportamento humano
 e da sociedade que surgiu no cinema francês nos últimos anos. Quente,
 sensualmente vivo e com atuações brilhantes das duas protagonistas,
 A Vida de Adele é muito mais do que uma simples história de amor lésbico.
 Ao atingir a última cena do filme, algo silenciosamente devastador, porém
 esperançoso, percebe-se que o filme tornou-se um mapa da alma humana.
2. Inside Llewyn Davis
Situado no início dos anos 1960 em New York, essa comédia seca e deprimente
 dos irmãos Coen, que ficou em segundo lugar no Festival de Cannes, está à altura
 dos outros sucessos dos premiados irmãos (Fargo, No Country for Old Men, 
A Serious Man) em termos do equilíbrio perfeito entre humor satírico e profundas
demonstrações de sentimento e humanidade.
O protagonista, um fracassado cantor de música folclórica (interpretado pelo
 cantor-ator Oscar Isaac) é ao mesmo tempo cruel e tenro, o que torna o filme 
um deleite. Navegando pela bagunça de sua vida fora dos palcos, marcada por
 noites dormidas em sofás emprestados, pequenos furtos e disputas com seu
 manager golpista e uma outra cantora folclórica (Carey Mulligan ) que pode ou 
não estar grávida do seu filho, Llewyn Davis é um personagem preguiçoso,
 carrancudo e rabugento. Mas quando ele sobe ao palco, revelando uma voz suave 
e ligeiramente rouca, seu rosto perde as duras linhas de expressão, ele fecha
 os olhos e parece abrir a sua alma para o mundo. As músicas folclóricas do
 filme, com suas letras sofridas e melodias melancólicas, não apenas compensam 
 a sagacidade seca do roteiro. Elas dão ao filme um rico subtexto emocional,
 permitindo que as queixas, brigas e acusações dos personagens ecoem
 sentimentos de arrependimento e desejo.
3. A Touch of Sin (Um toque de pecado)
Com sua exploração amarga, brutal e muitas vezes brilhante da violência e da
 corrupção na China contemporânea, o novo filme de Jia Zhangke ganhou o prêmio 
de Melhor Roteiro no Festival de Cannes. Dividido em quatro histórias (os personagens
 principais são um mineiro, um trabalhador migrante, um funcionário de um spa 
e um adolescente operário de fábrica), o filme pinta uma imagem desesperada de 
um país devastado por problemas socio-econômicos e povoado por pessoas
 exploradas e levadas a cometer atos de fúria e destruição.
Jia pontua o ritmo contemplativo e estilo realista do enredo com imagens
 surpreendentes de horror e sensualidade, evocando uma China vasta e rústica, 
com suas cobras, suas tempestades de areia, suas prostitutas e seus habitantes de 
aparência frágil, que comem tigelas de macarrão e se amontoam no frio para 
assistir a uma ópera ao ar livre.  Como em muitos dos filmes do diretor, os
 personagens de Um Toque de Pecado são figuras inquietas, sempre tramando 
sua fuga para outro lugar e uma vida melhor. O que é algo novo, porém, é a
 mistura que Jia faz de vários gêneros, como o western, o drama romântico,
 as artes marciais e o filme policial. O filme é, por vezes, desagradável (tiros,
 espadadas e espancamentos ocorrem em abundância), mas a ambição e a raiva
 inerente no roteiro são marcantes.
4. Jeune et Jolie (Jovem e Bonita)
Um retrato maliciosamente engraçado de uma prostituta adolescente, Jovem e
 Bonita (Jeune et jolie) é provavelmente o melhor filme do diretor  François Ozon
 desde Piscina (2003). A história gira em torno de Isabelle, uma parisiense 
arrebatadora de 17 anos (interpretada por Marine Vacth), que leva uma vida 
dupla como estudante de colegial e garota de programa de alta classe. O filme
 mostra a descoberta da sexualidade pela jovem, o tempo que ela gasta com 
seus clientes e as consequências de suas ações, com um sentido afinado de 
ironia e compaixão, mas sem um pingo de juízo moral.
Sabiamente, Ozon não fornece qualquer argumento psicológico para “explicar” 
por que Isabelle, que vem de uma família abastada, com uma mãe amorosa 
(a fantástica Geraldine Pailhas), desliza para a prostituição. Uma das ideias
 mais inquietantes e provocadoras do filme é a sugestão de que tal transgressão 
talvez seja o caminho mais fácil para um jovem que é tão consistentemente um
 objeto de desejo. O filme parece, à primeira vista, um estudo clínico e 
essencialmente francês da sexualidade feminina, mas ele se aventura por 
território arriscado quando pondera o impacto das escolhas de Isabelle sobre as 
pessoas ao seu redor. O grande mérito do diretor é que o filme não é moralista, 
apenas se aprofunda em seus mistérios, até terminar com uma conclusão assustadora.
5. A Grande Beleza
Visualmente imaginativo e muito divertido, o novo filme do diretor italiano 
Paolo Sorrentino é essencialmente uma variação de La Dolce Vita, de Felini,
 mergulhando o espectador no mundo cruel e voluptuoso das elites da mídia,
 artísticas e intelectuais de Roma.
A trama gira em torno de um escritor que virou jornalista, interpretado por 
Toni Servillo. A primeira hora e meia do filme é uma delícia, na medida em que
 a câmera de Sorrentino serpenteia por luxuosas festas regadas a champanhe
 e música eletrônica (a sequência de abertura do filme é um tour de force). 
Depois o ritmo diminui para dar lugar a cenas do dia depois da festa (manhãs na 
cama com uma nova conquista, almoços com amigos, reuniões com o editor-chefe, 
passeios à tarde) que ecoam solidão e tristeza. Na última meia hora do filme, ele 
começa a escorregar um pouco, com o diretor explicando coisas desnecessárias 
através de diálogos e narrações que as imagens já evocam perfeitamente. Ainda
 assim, o filme oferece uma janela para um mundo vivo, engraçado e profundamente 
inquietante, um retrato da Itália “bunga-bunga” de Silvio Berlusconi, que apodrece
 lentamente por baixo de uma superfície luxuosa e vazia.
OPINIÃO  & NOTICIA

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