Petição online apócrifa recolhe assinaturas e comentários de pessoas que criticam a presença de nordestinos no Estado de São Paulo. Texto, porém, nega racismo.
“O paulista olha ao seu redor e se vê um estrangeiro em sua própria terra. Presencia desrespeitos e hábitos impostos. Alta criminalidade, hospitais superlotados. Isto tudo relacionado à migração nordestina que a nossa terra sofreu nos últimos tempos”. É dessa forma que a petição online “São Paulo para os Paulistas” inicia a lista de acusações aos nordestinos que migraram para São Paulo pelos problemas enfrentados pela metrópole. Mais do que isso, o manifesto que circula na Internet sugere que os “estrangeiros” deixem o Estado.
O site PetitionOnline é um serviço virtual que armazena petições públicas, sem a necessidade de identificação. No manifesto, sem se identificar, o autor atribui aos nordestinos práticas como: “opressão e imposição sobre a cultural local”; “desrespeito à diversidade e xenofobia”; “migração predatória”. O documento defende que o Estado de São Paulo nunca recebeu investimentos da União, sendo praticamente um país à parte que se desenvolveu sozinho, e que, portanto, não deve nada ao Brasil, já que também é mantido pelos paulistas e não pelos brasileiros.
Afirma ainda que os valores culturais são determinantes para a índole e modos de agir das pessoas e que não deve haver tratamento igual entre paulistas e “forasteiros”, pois desta forma os primeiros estariam sendo discriminados. O autor diz que as afirmações do documento não são preconceituosas, devido à “veracidade das informações”. “Rejeitamos ainda calúnias de racismo. Nossa cor não é branca, não é morena, não é negra. Nossa cor é São Paulo”, diz.
EstereótipoPara a socióloga Rejane Vasconcelos, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), a acusação pode ser considerada normal, do ponto de vista das relações sociais. Segundo ela, tudo que vem de fora, sejam migrantes, negros, ou de alguma forma “diferente”, são vistos com uma visão estereotipada. “Eles são estereotipados como portadores do mal. É uma tendência de grupos políticos radicais criminalizarem os que vêm de fora”.
Rejane disse ainda que lhe causa estranheza que um movimento deste tipo ocorra em uma fase virtuosa da economia e ressaltou que durante a expansão de São Paulo os migrantes eram bem-vindos.
A socióloga defendeu ainda que, ao contrário do que muitos pensam, o Nordeste não é uma região-problema. “O Nordeste não é e nunca foi um problema para o país. Os nordestinos em São Paulo muito menos. Isso é encontrar uma saída fácil, estigmatizada e brutal, para uma questão que é social e que afeta a todas as regiões do país”, criticou.
“O que se pode fazer com esse manifesto é enquadrá-lo como crime. Antes de serem nordestinos, são brasileiros. Isso é algo que nos nivela, a nacionalidade”, destacou.
CearensesEm Fortaleza, a mestrando em História, Raquel Tomás, tentou assinar a petição como Adolf Hitler, o famigerado ditador alemão, mas seu comentário não foi aprovado. “Fiquei indignada, mas achei até engraçado. Porque eles estão perdendo tempo por algo que é inconstitucional. Eu vi que vários comentários foram rejeitados e tive a ideia de assinar como Hitler, mas só são aceitos comentários a favor do manifesto”, disse.
A jornalista cearense Luana Gurgel, moradora de Pompéia, na zona oeste de São Paulo, afirmou que nunca enfrentou qualquer tipo de preconceito em São Paulo por ser nordestina. “Nada, pelo contrário. Quando souberam que eu era cearense me trataram super bem. Nunca, nem de brincadeira. Nordestino aqui é conhecido pela garra, pela força”, disse Luana, que acrescentou:
O analista de sistemas Marcelo Bezerra é cearense e vive com há cinco anos em São Paulo e também diz nunca ter sido alvo de preconceito. “O máximo que se escuta é que isso ou aquilo é coisa de baiano”, afirmou.
OS PAULISTAS E O NORDESTE
POPULAÇÃO NORDESTINA QUE VIVE EM SÃO PAULO (dados de 2008).
Bahia – 1,97 milhão
Pernambuco – 1,067 milhão
Ceará – 519 mil
Alagoas – 421 mil
Paraíba – 391 mil
Piauí – 272 mil
Sergipe – 199 mil
Maranhão – 163 mil
Rio Grande do Norte – 152 mil
PAULISTAS QUE VIVEM NO NORDESTE (dados de 2008).
Bahia – 209 mil
Pernambuco – 134 mil
Ceará – 76 mil
Sergipe – 35 mil
Rio Grande do Norte – 33 mil
Paraíba – 32 mil
Alagoas – 29 mil
Piauí – 26 mil
Maranhão – 18 mil
FONTE: IBGE
“O paulista olha ao seu redor e se vê um estrangeiro em sua própria terra. Presencia desrespeitos e hábitos impostos. Alta criminalidade, hospitais superlotados. Isto tudo relacionado à migração nordestina que a nossa terra sofreu nos últimos tempos”. É dessa forma que a petição online “São Paulo para os Paulistas” inicia a lista de acusações aos nordestinos que migraram para São Paulo pelos problemas enfrentados pela metrópole. Mais do que isso, o manifesto que circula na Internet sugere que os “estrangeiros” deixem o Estado.
O site PetitionOnline é um serviço virtual que armazena petições públicas, sem a necessidade de identificação. No manifesto, sem se identificar, o autor atribui aos nordestinos práticas como: “opressão e imposição sobre a cultural local”; “desrespeito à diversidade e xenofobia”; “migração predatória”. O documento defende que o Estado de São Paulo nunca recebeu investimentos da União, sendo praticamente um país à parte que se desenvolveu sozinho, e que, portanto, não deve nada ao Brasil, já que também é mantido pelos paulistas e não pelos brasileiros.
Afirma ainda que os valores culturais são determinantes para a índole e modos de agir das pessoas e que não deve haver tratamento igual entre paulistas e “forasteiros”, pois desta forma os primeiros estariam sendo discriminados. O autor diz que as afirmações do documento não são preconceituosas, devido à “veracidade das informações”. “Rejeitamos ainda calúnias de racismo. Nossa cor não é branca, não é morena, não é negra. Nossa cor é São Paulo”, diz.
EstereótipoPara a socióloga Rejane Vasconcelos, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), a acusação pode ser considerada normal, do ponto de vista das relações sociais. Segundo ela, tudo que vem de fora, sejam migrantes, negros, ou de alguma forma “diferente”, são vistos com uma visão estereotipada. “Eles são estereotipados como portadores do mal. É uma tendência de grupos políticos radicais criminalizarem os que vêm de fora”.
Rejane disse ainda que lhe causa estranheza que um movimento deste tipo ocorra em uma fase virtuosa da economia e ressaltou que durante a expansão de São Paulo os migrantes eram bem-vindos.
A socióloga defendeu ainda que, ao contrário do que muitos pensam, o Nordeste não é uma região-problema. “O Nordeste não é e nunca foi um problema para o país. Os nordestinos em São Paulo muito menos. Isso é encontrar uma saída fácil, estigmatizada e brutal, para uma questão que é social e que afeta a todas as regiões do país”, criticou.
“O que se pode fazer com esse manifesto é enquadrá-lo como crime. Antes de serem nordestinos, são brasileiros. Isso é algo que nos nivela, a nacionalidade”, destacou.
CearensesEm Fortaleza, a mestrando em História, Raquel Tomás, tentou assinar a petição como Adolf Hitler, o famigerado ditador alemão, mas seu comentário não foi aprovado. “Fiquei indignada, mas achei até engraçado. Porque eles estão perdendo tempo por algo que é inconstitucional. Eu vi que vários comentários foram rejeitados e tive a ideia de assinar como Hitler, mas só são aceitos comentários a favor do manifesto”, disse.
A jornalista cearense Luana Gurgel, moradora de Pompéia, na zona oeste de São Paulo, afirmou que nunca enfrentou qualquer tipo de preconceito em São Paulo por ser nordestina. “Nada, pelo contrário. Quando souberam que eu era cearense me trataram super bem. Nunca, nem de brincadeira. Nordestino aqui é conhecido pela garra, pela força”, disse Luana, que acrescentou:
O analista de sistemas Marcelo Bezerra é cearense e vive com há cinco anos em São Paulo e também diz nunca ter sido alvo de preconceito. “O máximo que se escuta é que isso ou aquilo é coisa de baiano”, afirmou.
OS PAULISTAS E O NORDESTE
POPULAÇÃO NORDESTINA QUE VIVE EM SÃO PAULO (dados de 2008).
Bahia – 1,97 milhão
Pernambuco – 1,067 milhão
Ceará – 519 mil
Alagoas – 421 mil
Paraíba – 391 mil
Piauí – 272 mil
Sergipe – 199 mil
Maranhão – 163 mil
Rio Grande do Norte – 152 mil
PAULISTAS QUE VIVEM NO NORDESTE (dados de 2008).
Bahia – 209 mil
Pernambuco – 134 mil
Ceará – 76 mil
Sergipe – 35 mil
Rio Grande do Norte – 33 mil
Paraíba – 32 mil
Alagoas – 29 mil
Piauí – 26 mil
Maranhão – 18 mil
FONTE: IBGE
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