Gravação mostra procuradores da
Lava Jato tentando induzir depoimento
Postado em 28 de abril de 2016 às 6:51 pm
Do Conjur:
Ameaçar testemunhas com o intuito de influenciar o resultado de
uma investigação criminal configura crime de coação no curso do
processo, previsto no artigo 344 do Código Penal, já decidiu o Tribunal
de Justiça do Distrito Federal. No entanto, é difícil imaginar qual é
o possível desfecho quando a atitude é do próprio Ministério Público Federal.
Ameaças veladas, como “se o senhor disser isso, eu apresento
documentos, e aí vai ficar ruim pro senhor”, que poderiam estar
em um filme policial, foram feitas em plena operação “lava jato”.
E em procedimento informal, fora dos autos.
O cenário é uma casa humilde no interior de São Paulo. Quatro
procuradores batem à porta e, atendidos pelo morador — que
presta serviços de eletricista, pintor e jardinagem em casas e
sítios—, começam a questionar se ele trabalhou no sítio usado
pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e se conhece um
dos donos do imóvel, o empresário Jonas Suassuna. Ao ouvirem
que o homem não conhecia o empresário nem havia trabalhado no
local, começam o jogo de pressões e ameaças:
Procurador: Quero deixar o senhor bem tranquilo, mas, por
exemplo, se a gente chamar o senhor oficialmente pra depor
daqui a alguns dias, e você chegar lá pra mim e falar uma coisa dessas…
Interrogado: Dessas… Sobre o quê?
Procurador: Sobre, por exemplo, o senhor já trabalhou no sítio
Interrogado: Dessas… Sobre o quê?
Procurador: Sobre, por exemplo, o senhor já trabalhou no sítio
Santa Barbara?
Interrogado: Não trabalho.
Procurador: O senhor já conheceu o senhor Jonas Suassuna?
Interrogado: Nunca… Nunca vi.
Procurador: O senhor já fez algum pedido pra ele em algum lugar?
Interrogado: Nem conheço.
Procurador: Então, por exemplo, aí eu te apresento uma série de
Interrogado: Não trabalho.
Procurador: O senhor já conheceu o senhor Jonas Suassuna?
Interrogado: Nunca… Nunca vi.
Procurador: O senhor já fez algum pedido pra ele em algum lugar?
Interrogado: Nem conheço.
Procurador: Então, por exemplo, aí eu te apresento uma série de
documentações. Aí fica ruim pro senhor, entendeu?
A conversa foi gravada pelo filho do interrogado, um trabalhador
da região de Atibaia. Os visitantes inesperados eram os
procuradores do Ministério Público Federal Athayde Ribeiro Costa,
Roberson Henrique Pozzobon, Januário Paludo e Júlio Noronha.
Nas duas gravações, obtidas pela ConJur, os membros do MPF
chegam na casa do “faz tudo” Edivaldo Pereira Vieira. Sutilmente
, tentam induzi-lo, ultrapassando com desenvoltura a fronteira
entre argumentação e intimidação, dando a entender que dizer
certas coisas é bom e dizer outras é ruim.
Na insistência de que o investigado dissesse o que os procuradores
esperavam ouvir, fazem outra ameaça velada a Vieira, de que
ele poderia ser convocado a depor e dizer a verdade.
Procurador: É a primeira vez, o senhor nos conheceu agora,
e eventualmente talvez a gente chame o senhor pra depor
oficialmente, tá? Aí, é, dependendo da circunstância nós
vamos tomar o compromisso do senhor, né, de dizer a
verdade, aí o senhor que sabe…
Interrogado: A verdade?
Procurador: É.
Interrogado: Vou sim, vou sim.
Procurador: Se o senhor disser a verdade, sem, sem problema nenhum.
Interrogado: Nenhum. Isso é a verdade, tô falando pra vocês.
Procurador: Então seu Edivaldo, quero deixar o senhor bem
Interrogado: A verdade?
Procurador: É.
Interrogado: Vou sim, vou sim.
Procurador: Se o senhor disser a verdade, sem, sem problema nenhum.
Interrogado: Nenhum. Isso é a verdade, tô falando pra vocês.
Procurador: Então seu Edivaldo, quero deixar o senhor bem
tranquilo, mas, por exemplo, se a gente chamar o senhor
oficialmente pra depor daqui a alguns dias, e você chegar
lá pra mim e falar uma coisa dessas…
Ao baterem à porta de Vieira, um dos procuradores diz: “Ninguém
aqui tá querendo te processar nem nada, não”.
No entanto, o nome de Pereira Vieira aparece na longa lista de
etapa da operação “lava jato”, que investiga se o ex-presidente
Lula é o dono de sítio em Atibaia, assinado pelo juiz Sergio
Fernando Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.
Ao se despedirem, deixando seus nomes e o telefone escritos a
lápis numa folha de caderno, os membros do MPF insistem que o
investigado escondia algo e poderia “mudar de ideia” e decidir falar:
Procurador: Se o senhor mudar de ideia e quiser conversar com
a gente, o senhor pode ligar pra gente?
Interrogado: Mudar de ideia? Ideia do quê?
Procurador: Se souber de algum fato.
Interrogado: Não…
Procurador: Se você resolver conversar com a gente você liga
Interrogado: Mudar de ideia? Ideia do quê?
Procurador: Se souber de algum fato.
Interrogado: Não…
Procurador: Se você resolver conversar com a gente você liga
pra gente, qualquer assunto?
Interrogado: Tá.
Interrogado: Tá.
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