sexta-feira, 29 de abril de 2016

UM POUQUINHO DE UM PAIS CHAMADO BRAZIL FORA GOLPISTAS



Não existe almoço grátis.
O Nobel de economia, Milton Friedman, utilizou essa expressão 
para mostrar que são os impostos cobrados da população que
 financiam os gastos e investimentos públicos de um governo.
A política brasileira que possui a impressionante habilidade de
 inverter e subverter toda e qualquer lógica dos mais sólidos 
fundamentos econômicos, jurídicos e sociais nos mostra que por
 aqui esse termo tem uma aplicação bem mais abrangente e
 bem menos republicano, digamos assim.
Vejamos. Do ponto de vista jurídico, não há qualquer argumento 
plausível que explique o fato do STF ainda não haver, no mínimo,
 afastado Eduardo Cunha de suas funções enquanto presidente
 da Câmara dos Deputados.
O estoque de manobras, abusos, afrontas, desrespeitos e intimidações 
que EC vem promovendo a cada novo dia parece não ter limites. 
Mesmo assim, a Suprema Corte do país continua na mais
 inquietante inépcia diante todo um Parlamento afundado em 
denúncias enquanto conduz mais um golpe na democracia brasileira.
Mas lembremos que não existe almoço grátis. A condescendência 
do STF com a farra grotesca em torno do impeachment tem o seu 
preço. Entre os gritos de “sim” justificados por “Deus”, pela “esposa
” e pelos “filhos”, formou-se também a maioria necessária na
 Câmara para aprovar o reajuste salarial do judiciário.
Trata-se de uma das famosas pautas-bomba lançadas pelo nosso
 bom e velho Cunha para desestabilizar ainda mais as contas públicas.
 A medida prevê um aumento de 53% a 78% nos vencimentos
 dos servidores do judiciário e magistrados. Ministros do STF
 incluídos, naturalmente.
Quanto à responsabilidade fiscal tão defendida oportunamente
 pelos arautos da ética e da moralidade, nesse caso não vem ao 
caso. Segundo as previsões do Ministério do Planejamento, o acordo 
dos cavalheiros, se de fato aprovada, custará aos cofres públicos 
R$ 5,3 bilhões ainda em 2016 e chegará a R$ 36,2 bilhões até 2019.
Pois é! Poderes independentes e soberanos auxiliados por
 instituições isentas, técnicas e imparciais são para nações que não
 admitem que uma quadrilha de ladrões hipócritas subjuguem a 
Carta Magna e a vontade expressa das urnas. Parece não ser 
o caso do Brasil.
O pior, porque sempre pode ser pior, é que a conta para a 
deposição de uma presidente democrática e legitimamente eleita
 não está sendo cobrada apenas pelo poder judiciário. A digníssima
 bancada BBB -boi, bala e bíblia – também já apresentam as 
suas faturas.
Por terem votado em peso a favor do impeachment, a romaria em 
encontro à Temer já começou. O pastor Silas Malafaia e afins 
estiveram com o vice-presidente no palácio do Jaburu para orar
 e abençoar o “eleito” por 1% dos votos. Não sem cobrar o seu 
dízimo como de costume.
Exigiram a aprovação do Estatuto da Família, o fim do Estatuto do
 desarmamento com o livre comércio, posse e utilização de armas
 e como não poderia deixar de faltar, mudanças nas regras de 
demarcações de terras indígenas. Retrocessos e nada mais.
Já a cúpula do PSDB e DEM também não deixou barato. Para um
 apoio irrestrito ao governo Temer, exigem que a pauta neoliberal
 que fez o país se ajoelhar três vezes ao FMI seja seguida à risca. 
Até o ex-presidente Collor já entregou um “Plano de Reconstrução”
 ao principal beneficiário do golpe. É realmente um filme de horror.
O preço que todos nós teremos que pagar se Michel Temer assumir 
realmente a presidência da república será assombroso. Soma-se
 aos retrocessos econômicos e sociais, o desmantelamento das
 operações de combate à corrupção. Afinal de contas, estamos
 falando do PMDB.
Retirar Dilma do lugar que a democracia lhe reservou sob o 
estupro da Constituição Federal custará um valor que ninguém 
deveria estar disposto a pagar. Porque, definitivamente, não 
existe almoço grátis.
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