Escrever a história do Brasil não consiste em traçar uma evolução retilínea
e determinista do que seria um “destino nacional”, porque ao contrário de
uma ideia imutável, nada é mais volátil do que a história como disciplina,
relato de sua época e sujeita a revisões constantes.
Nesse contexto em A nova história do Brasil recém-publicado pela editora
Gryphus, 269 páginas, R$ 39,90, a professora e conferencista de história
contemporânea na Universidade de Paris IV-Sorbonne, Armelle Enders,
aborda desde a pré-história do país até o início do segundo mandato de
Luís Inácio Lula da Silva, com ênfase na diversidade e contradições da
sociedade brasileira. Este livro, primorosamente editado, constitui,
sem dúvida, uma valiosa contribuição à historiografia brasileira.
A primeira parte de A nova história do Brasil analisa o “Brasil antes do
Brasil”, ou seja, o longo período que precedeu a Independência de 1822
quando o país se tornou um Estado-nação, com suas dimensões
continentais. Em seguida, Enders faz um relato sobre a construção do
Brasil e a formação dos brasileiros nas décadas de 1820 a 1930. Nessa
linha do tempo linear, na terceira parte do livro “Os Caminhos da
Democracia e do Poder na Década de 1930 ao ano 2000”, a autora
descreve, entre outros temas, a República de 1946, a invenção do
trabalhismo, os militares no poder e a transição democrática. Por fim,
no último capítulo “Brasil, país do mundo” vemos a criação do Mercosul,
em 1991, e a inserção do Brasil no mundo globalizado.
A história do Brasil constitui um excelente exemplo para observar que a
fragmentação do mundo não é um fenômeno atual. A construção do país
resultou de um processo bem mais complexo do que a relação de
dependência da Europa e, a partir do século XVI, o Brasil foi ponto de
confluência de homens vindos de lugares diferentes onde se entremearam
as influências culturais diversas.
Em uma entrevista concedida em Paris ao jornal Folha de São Paulo,
em 27 de março de 2000, a historiadora disse que o famoso “jeitinho
” brasileiro encontra justificativa na história política recente do Brasil.
O convívio com um Estado instável e sem “tradição enraizada de
prestação de serviços” fez com que a sociedade adquirisse “capacidade
de mudança e criatividade” para superar as deficiências do Estado.
Além disso, a colonização “singular” do Brasil ajuda a explicar aspectos
da sua atual formação política e social. As peculiaridades desse “jeitinho”
, da “criatividade”, do Brasil complexo e da diversidade social, étnica e
cultural desse “país mestiço” são analisadas com grande rigor acadêmico
em A nova história do Brasil.
Armelle Enders é autora também de A história do Rio de Janeiro publicada
com sucesso pela mesma editora.
OPINIÃO&NOTICIA
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