Bruno Caetano – Brasil de Fato
O perfil das companhias estrangeiras que invadiriam o setor
de infraestrutura brasileiro, nos últimos anos, mostra uma
realidade bem diferente do discurso que aponta para a
“ineficiência do Estado” como justificativa para a privatização
generalizada e a venda do patrimônio nacional.
Isso porque muitas das multinacionais que agora dominam
fatias consideráveis de setores estratégicos no Brasil, como
petróleo e energia elétrica, não são empresas privadas,
mas companhias estatais de grande valor estratégico em
seus países de origem.
Segundo levantamento do jornal Valor Econômico, tais
companhias investiram no país cerca de R$ 120 bilhões
nos últimos cinco anos. Entre os principais agentes desse
movimento estão China, Espanha, França, Itália, Alemanha
e Colômbia.
Para Rodrigo Leão, economista do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o governo
Jair Bolsonaro promove um esforço de facilitação para que
as empresas estrangeiras se apropriem dos recursos
naturais brasileiros.
“Não é bem a privatização das estatais brasileiras para
estatais estrangeiras, mas a privatização de recursos naturais
sob posse das empresas estatais”, afirma.
Para Leão, fica claro que haverá a concentração da atuação
de empresas estrangeiras na área de energia e petróleo.
“Esse processo não se dá, necessariamente, via privatização
da Petrobras, se dá via flexibilização da regulação do setor
para que seja facilitada a entrada. Por exemplo, mudando
a lei de exploração do petróleo, que foi o que aconteceu no
governo Temer.”
Entre as estatais que já operam e faturam no Brasil estão
Sinochem, CTG, State Grid e CNPC (as quatro da China), State
Oil (Noruega), Enel (Itália) e Engie (França).
Soberania
“Não importa se quem está comprando é uma estatal ou
privada. O que normalmente vem acontecendo é que quem
compra é o capital internacional”, diz a economista Leda Paulani.
A preocupação com a soberania do país já foi rifada há muito
tempo, avalia Leda.
“Os governos do PT [Partido dos Trabalhadores] tentaram brecar
um pouco isso, não teve grandes privatizações, mas ocorreram
desde o Collor e, principalmente, no governo FHC, sempre
com uma espécie de DNA de autodesvalorização. Sempre se
atende mais às exigências do capital internacional do que o
que seria bom para o país como um todo. Desde o golpe, isso
se acentuou”, disse.
Vender estatais, para Leda, é “matar a galinha dos ovos de ouro”
, transferindo recursos do Estado brasileiro para mãos estrangeiras.
O próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) já admitiu, em
2016, que políticas neoliberais como as privatizações têm
aumentado a desigualdade social.
Apesar do caráter estatal das empresas estrangeiras, Leão
explica que, fora do país de origem, elas atuam na lógica do
capital privado. No Brasil, por exemplo, não são elas que vão se
preocupar em construir gasodutos para as áreas mais remotas.
“A preocupação da China está ligada à preocupação da China
enquanto país, e não enquanto relação com o Brasil”, conclui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário