quarta-feira, 31 de julho de 2019

O BRASIL DESCENDO A LADEIRA

Retomada das obras do Comperj, 
no Rio de Janeiro, foi entregue à 
estatal chinesa China National 
Petroleum Corporation
 (CNPC) / Petrobras
Bruno Caetano – Brasil de Fato
O perfil das companhias estrangeiras que invadiriam o setor
 de infraestrutura brasileiro, nos últimos anos, mostra uma
 realidade bem diferente do discurso que aponta para a 
“ineficiência do Estado” como justificativa para a privatização
 generalizada e a venda do patrimônio nacional.
Isso porque muitas das multinacionais que agora dominam
 fatias consideráveis de setores estratégicos no Brasil, como
 petróleo e energia elétrica, não são empresas privadas,
 mas companhias estatais de grande valor estratégico em 
seus países de origem.
Segundo levantamento do jornal Valor Econômico, tais 
companhias investiram no país cerca de R$ 120 bilhões
 nos últimos cinco anos. Entre os principais agentes desse
 movimento estão China, Espanha, França, Itália, Alemanha 
e Colômbia.
Para Rodrigo Leão, economista do Instituto Nacional de 
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o governo
 Jair Bolsonaro promove um esforço de facilitação para que
 as empresas estrangeiras se apropriem dos recursos 
naturais brasileiros.
“Não é bem a privatização das estatais brasileiras para
 estatais estrangeiras, mas a privatização de recursos naturais 
sob posse das empresas estatais”, afirma.
Para Leão, fica claro que haverá a concentração da atuação 
de empresas estrangeiras na área de energia e petróleo.
“Esse processo não se dá, necessariamente, via privatização 
da Petrobras, se dá via flexibilização da regulação do setor
 para que seja facilitada a entrada. Por exemplo, mudando
 a lei de exploração do petróleo, que foi o que aconteceu no
 governo Temer.”
Entre as estatais que já operam e faturam no Brasil estão 
Sinochem, CTG, State Grid e CNPC (as quatro da China), State
 Oil (Noruega), Enel (Itália) e Engie (França).
Soberania
“Não importa se quem está comprando é uma estatal ou 
privada. O que normalmente vem acontecendo é que quem 
compra é o capital internacional”, diz a economista Leda Paulani.
A preocupação com a soberania do país já foi rifada há muito
 tempo, avalia Leda.
“Os governos do PT [Partido dos Trabalhadores] tentaram brecar
 um pouco isso, não teve grandes privatizações, mas ocorreram
 desde o Collor e, principalmente, no governo FHC, sempre 
com uma espécie de DNA de autodesvalorização. Sempre se 
atende mais às exigências do capital internacional do que o 
que seria bom para o país como um todo. Desde o golpe, isso 
se acentuou”, disse.
Vender estatais, para Leda, é “matar a galinha dos ovos de ouro”
, transferindo recursos do Estado brasileiro para mãos estrangeiras.
 O próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) já admitiu, em
 2016, que políticas neoliberais como as privatizações têm
 aumentado a desigualdade social.
Apesar do caráter estatal das empresas estrangeiras, Leão
 explica que, fora do país de origem, elas atuam na lógica do 
capital privado. No Brasil, por exemplo, não são elas que vão se 
preocupar em construir gasodutos para as áreas mais remotas.
 “A preocupação da China está ligada à preocupação da China 
enquanto país, e não enquanto relação com o Brasil”, conclui.

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