quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

UM POUQUINHO DE UM PAIS CHAMADO BRAZIL



PESQUISA 

COMPROVA QUE

 BRASIL É O 

PAÍS DO 

LATIFÚNDIO

Quase metade da área rural brasileira pertence a
 1% das propriedades do país, de acordo com o 
estudo inédito Terrenos da desigualdade: terra,
 agricultura e desigualdades no Brasil rural 
divulgado hoje (1º) pela organização não
 governamental (ONG) britânica Oxfam; os 
estabelecimentos rurais a partir de mil hectares 
(0,91%) concentram 45% de toda a área de
 produção agrícola, de gado e plantação florestal
1 DE DEZEMBRO DE 2016 ÀS 08:06 // RECEBA O 247 NO TELEGRAM Telegram



Flávia Villela - Repórter da Agência Brasil

Quase metade da área rural brasileira pertence a 1% das
 propriedades do país, de acordo com o estudo inédito
 Terrenos da desigualdade: terra, agricultura e 
desigualdades no Brasil rural divulgado hoje (1º) pela 
organização não governamental (ONG) britânica Oxfam. 
Os estabelecimentos rurais a partir de mil hectares
 (0,91%) concentram 45% de toda a área de produção 
agrícola, de gado e plantação florestal.
Por outro lado, estabelecimentos com menos de 10
 hectares representam cerca de 47% do total das 
propriedades do país, mas ocupam menos de 2,3% da
 área rural total. Esses pequenos produtores produzem
 mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa do
 brasileiro, já que as grandes monoculturas exportam
 a maior parte da produção
O estudo mostra a cidade de Correntina, na Bahia,
 como exemplo emblemático dessa realidade, onde 
os latifúndios ocupam 75,35% da área total dos
 estabelecimentos agropecuários. Nessa cidade, a 
pobreza atinge 45% da população rural e 31,8% da
 população geral. Os municípios com maior concentração
 de terra apresentam os menores índices de
 Desenvolvimento Humano e aqueles com a menor
 concentração tinham os melhores indicadores sociais. 
A diretora executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia, 
explicou que a concentração de terra gera desigualdade
 em todos os setores vinculados à produção da terra.
“Quanto maior a concentração de terra, maior a
 concentração de investimento, de maquinário, que
 vai se expandindo para diferentes setores. A 
modernização da agricultura não demonstrou melhora 
na condição de vida da população”, comentou Katia.
 “Números preliminares mostram que os municípios 
com maior concentração têm nível maior de pobreza”.
As grandes propriedades rurais com mais de mil 
hectares concentram 43% do crédito rural, enquanto 
para 80% dos menores estabelecimentos esse 
percentual varia entre 13% e 23%.
A reforma agrária é fundamental para reverter o quadro,
 mas não basta, argumentou a diretora da ONG.
 “O governo pode assumir medidas e políticas no 
mundo rural para incentivar maior distribuição, 
especialmente na área de investimentos, apoio 
técnico e programas, como o Programa Nacional 
de Fortalecimento da Agricultura Familiar e o 
Programa Nacional de Alimentação Escolar”, acrescentou.
A concentração de terra também contribui para a
 incidência de trabalho escravo, alerta o estudo. De 
2003 a 2013, 82% das autuações do Ministério do
 Trabalho e Emprego por trabalho análogo ao de
 escravo ocorreram no oeste da Bahia, com grande
 concentração de terra. Somente em Correntina, 
249 trabalhadores foram encontrados nessas condições.
O estudo agrupou os municípios de acordo com a 
relevância agropecuária: 1% com maior concentração 
de terras, os 19% seguintes e os 80% restantes, 
com base no último Censo Agropecuário do Instituto
 Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de
 2006, e o IBGE Cidades, de 2010.
Dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
 Agrária (Incra) indicam que 729 pessoas físicas e 
jurídicas se declaram proprietárias de imóveis rurais
 com dívidas à União de mais de R$ 50 milhões cada,
 aproximadamente R$ 200 bilhões. Esse grupo,
 segundo a pesquisa, tem propriedades de área 
suficiente para assentar quase 215 mil famílias, quase 
duas vezes o número de famílias que estão acampadas
 hoje no Brasil esperando por reforma agrária.
América Latina
A mesma realidade ocorre na América Latina, em que
 1% concentra 51,19% de toda a superfície agrícola
 da região. O dado está no relatório Terra, Poder e
 Desigualdade na América Latina, também divulgado
 hoje, que analisa o cenário de concentração das 
propriedades rurais em 15 países da região com base
 nos censos agropecuários locais.
O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking da região
 do coeficiente de Gini - que mede a desigualdade na
 distribuição de terra, em que 0 corresponde à 
completa igualdade e 1 corresponde à completa 
desigualdade. A nota brasileira é 0,87. O Paraguai 
aparece com o pior índice de Gini (0,93), seguido do
 Chile (0,91) e da Venezuela e Colômbia (0,88), 
onde 0,4% das propriedades concentram mais de 
67% da terra produtiva.
Conflitos no campo
A modernização da agricultura e os assentamentos 
e demarcações de terras indígenas não foram capazes
 de aplacar os conflitos, que já mataram 2.262
 pessoas entre 1964 e 2010, de acordo com o estudo.
 A violência no campo pela disputa da terra ocasionou
 50 mortes no ano passado e 1.217 conflitos, segundo 
dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do 
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
 O Brasil está no topo da lista dos países onde mais 
ativistas ambientais e da terra foram mortos em 2015,
 segundo outra pesquisa divulgada em junho deste
 ano pela ONG Witness.
Os estados mais violentos são Rondônia e o Pará. No
 período, foram registrados momentos de pico, em 
especial na década de 80, quando aumentaram as 
mobilizações sociais e as lutas por terra, década 
que também marcou a fundação do Movimentos dos
 Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Um novo 
pico foi registrado durante o primeiro governo Lula, 
de 2003 a 2006. Apenas em 2003 ocorreram 496
 ocupações – em 2010 foram 180.
Incra
De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e 
Reforma Agrária (Incra), mais de 1,3 milhão de famílias 
já foram assentadas desde o início do Programa 
Nacional de Reforma Agrária (PNRA). O programa 
foi criado em 1996. Ao todo, 977 mil famílias vivem
 atualmente em assentamentos e áreas reformadas.
As titulações estão sendo efetivadas, informou o 
instituto, por meio de trabalhos de revisão ocupacional
 em campo, “o que está sendo feito com maior
 expressão neste último bimestre do ano, a partir do
 desbloqueio de recursos destinados ao órgão”, diz 
a nota. “Todas as 30 superintendências estão 
mobilizadas neste sentido, já que foi estabelecida
 como meta a emissão de cerca de 70 mil títulos
 de propriedade até o fim do próximo ano”.
Ainda segundo o Incra, as metas para os próximos 
anos dependem da aprovação do orçamento a ser 
destinado à autarquia no início de 2017. O instituto 
ressaltou que o contingenciamento de gastos deste 
ano reduziu em cerca de 40% os recursos destinado
 à reforma agrária. Além disso, informou o Incra
, houve alteração de diretrizes e um passivo ocasionado 
pelo bloqueio determinado pelo Tribunal de Contas 
da União (TCU), que paralisou o acesso de famílias
 beneficiárias às políticas públicas asseguradas pelo 
Programa Nacional da Reforma Agrária.

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