01/09/2013 - 01h16OS
Em cidades do Nordeste,
enfermeiro faz papel de médico
DANIEL CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL AO INTERIOR DE ALAGOAS E PERNAMBUCO
As paredes externas da única policlínica de Maravilha, cidadezinha
do sertão alagoano, são cobertas por cartazes com orientações
para seus dez mil habitantes.
Seria louvável não fosse o teor das mensagens: quem precisar de
cirurgia ou consulta deve ir a outra cidade.
Escassez de médicos é aguda no sistema público, não no Brasil
Plano de carreira médica está emperrado há três anos no ministério
Onde falta médico, falta dentistas e enfermeiros, mostra pesquisa
Plano de carreira médica está emperrado há três anos no ministério
Onde falta médico, falta dentistas e enfermeiros, mostra pesquisa
Não há médicos suficientes no município, que, apesar do nome,
ocupa um dos últimos lugares no ranking nacional de IDH (Índice
de Desenvolvimento Humano).
"A gente não consegue médicos", diz o assessor da Secretaria de
Saúde do município, Everton Costa.
Os três clínicos atendem nos postos do Programa Saúde da Família,
mas só três vezes por semana.
Costa diz que os R$ 42 mil que o governo federal envia por mês vão
para as contas dos médicos, que recebem R$ 10 mil, além de ajuda
com alimentação e hospedagem.
"Estão aqui desde maio e já estão querendo sair. Passamos dois
meses sem médicos. Ninguém tem interesse em vir", afirma o assessor.
A cidade que não atrai médicos brasileiros está na lista das 701 que
podem receber médicos cubanos.
Ouro Branco, também em Alagoas, se inscreveu no programa federal
Mais Médicos. Mas, como ninguém se candidatou a ir para lá, sobrou
para os médicos de Cuba.
A Casa Maternal Nossa Senhora do Bom Parto só ajuda bebês a virem
ao mundo em último caso. Se a mãe aguentar, vai para Santana do
Ipanema, a 30 quilômetros de lá.
Quando a reportagem esteve na unidade, só havia uma enfermeira.
Os leitos estavam todos vazios.
Dois médicos se revezam nas noites de quinta e sexta e no fim de
semana num consultório sem mesa.
Ao cruzar a divisa e chegar a Pernambuco, a situação não melhora
muito. A agricultora Sebastiana Pereira, 19, levou a filha Sofia, 1,
com febre, ao Hospital João Paulo 2º, em Manari, no sertão.
PERNAMBUCO
Como não havia mais ficha para que a garota fosse atendida por um
médico, quem cuidou da menina foi um enfermeiro. "É horrível, né?"
A direção da unidade disse que há médicos todos os dias, exceto às
sextas-feiras.
Na vizinha Itaíba, a Secretaria de Saúde afirmou que deve receber do
governo federal uma UTI móvel. Mas o município ainda não conseguiu
equipe para operá-la.
Para a agricultora Maria Josefina Messias, 59, o jeito é apelar para
a religião. "Aqui no Nordeste, o cara tem que se curar pela fé, porque
se for esperar médico..."
FONTE FOLHA DE SÃO PAULO
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