sexta-feira, 21 de dezembro de 2012


Receita de Ano Novo

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris, ou da cor
 da sua paz, 
 Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
 (mal vivido talvez
 ou sem sentido) para você ganhar um ano não apenas
 pintado de novo, 
remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do 
vir-a-ser; novo até
 no coração das coisas menos percebidas (a começar 
pelo seu interior) 
 novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
 mas com ele se 
come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha,
 você não precisa 
beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa 
expedir nem
 receber mensagens (planta recebe mensagens? passa 
telegramas?) 
 Não precisa fazer lista de boas intenções para
 arquivá-las na gaveta. 
 Não precisa chorar arrependido pelas besteiras 
consumidas nem
 parvamente acreditar que por decreto de esperança
 a partir de janeiro 
as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa,
 justiça entre os
 homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de
 pão matinal,
 direitos respeitados, começando pelo direito augusto
 de viver. Para
 ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, 
meu caro, tem
 de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não
 é fácil, mas tente,
 experimente, consciente. É dentro de você que o
 Ano Novo cochila
 e espera desde sempre.

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