sábado, 1 de junho de 2013


ADRIANO PIRES

Os desafios do gás não 

convencional

Sucesso da exploração de gás não convencional no Brasil depende 

de uma política de incentivo que viabilize investimentos e uma definição 

sobre o papel da Petrobras


Passado o aguardado 11.º leilão de concessão de áreas exploratórias de
 petróleo e gás, as atenções se voltam para o leilão em que serão ofertadas 
áreas promissoras para a exploração de gás não convencional.
O interesse pelo tema é potencializado pela bem-sucedida experiência dos
 EUA, cujo aumento da produção de shale gas barateou fortemente o 
preço do gás natural, atraindo investimentos, gerando empregos e ajudando 
o país a sair da crise em que estava desde 2008. As projeções mostram 
que os EUA caminham a passos largos na direção da autossuficiência, podendo, 
eventualmente, tornar-se exportador de gás natural. Enquanto isso, no 
Brasil, a indústria patina na falta de competitividade e o barateamento do 
gás está sendo visto como um “ovo de Colombo” capaz de recolocar nosso 
setor industrial no caminho do crescimento.
Mas replicar o fenômeno dos EUA não é tarefa simples e não basta ter as
 reservas. O sucesso americano é resultado de um conjunto de fatores
 políticos, institucionais, econômicos, ambientais, geográficos e 
tecnológicos que propiciaram um ambiente atrativo a investimentos
 em exploração e produção de gás não convencional. Desde os anos 70,
o aumento da produção americana resultou do apoio do governo com
 políticas fiscais e incentivo ao desenvolvimento da tecnologia de 
fraturamento e da infraestrutura existente para escoar a produção.
 Todos esses fatores se potencializaram pelo mercado por meio do 
elevado nível dos preços do gás na década de 2000, gerando o atual
 boom de produção do shale gas no mercado americano.
Um longo caminho
No Brasil, pelo menos até agora, não temos legislação específica para o 
gás não convencional nem incentivos fiscais/financeiros que aumentem 
a atratividade do investimento. Também não há estudos completos e 
detalhados sobre as reservas, o que aumenta o risco das empresas que 
vierem para essa empreitada. Temos, ainda, desafios no que se refere à
 cadeia de suprimento para a nova atividade.
Enquanto a distância entre poços de uma área típica de produção de gás
 convencional é de alguns quilômetros, no caso do shale é de apenas centenas
 de metros, por causa da baixa permeabilidade. Com isso será necessário um
 grande número de sondas que não estão disponíveis no mercado doméstico, 
que não tem dado conta nem mesmo de produzir as sondas necessárias para a
 exploração convencional. Além das sondas, há que se criar uma logística para 
que os demais insumos possam chegar aos campos de perfuração. O processo 
de fraturamento exige a mobilização de uma centena de caminhões para 
transportar areia, compostos químicos e muita água. O que deveria levar a 
uma avaliação, se a atual política de conteúdo nacional é apropriada para o 
gás não convencional. Tudo isso sem contar a infraestrutura de escoamento
 insuficiente, que inviabiliza a monetização das reservas de gás convencional 
da Bacia do Solimões, que já poderiam contribuir para a oferta doméstica.
Outro aspecto técnico que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) precisa 
considerar é o fato de os poços de shale gas apresentarem uma taxa de
 declínio muito acelerada, de 63% a 85% no primeiro ano de produção. 
Isso deveria levar a ANP a repensar duas questões: o prazo da concessão
 e o programa exploratório mínimo.
Ao comparar o Brasil com os EUA na questão da exploração e produção
 de gás não convencional, a conclusão é que faltam uma política de incentivo 
que viabilize o investimento no setor e uma definição sobre o papel e a 
atuação da Petrobras. Ao contrário do mercado americano, onde há grande
 quantidade de empresas atuando em todos os segmentos da indústria do
 gás natural, no Brasil a Petrobras é um monopólio vertical e horizontal, 
já que é a única produtora, importadora e transportadora e tem o
 monopólio da produção de todos os energéticos concorrentes ao gás 
natural. As reservas nós já temos. Se a produção vai se dar em 2 ou 
10 anos, depende da vontade do governo de enfrentar os gargalos que
 prejudicam o mercado de gás no Brasil.

OPINIÃO  &  NOTICIA

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