sexta-feira, 28 de setembro de 2012


TENDÊNCIAS E DEBATES

Brasil caminha para ser 

uma República pentecostal?

Processos eleitorais brasileiros parecem cada vez mais influenciados

 por um credo que já representa um segmento de 22% da população brasileira, e subindo

por Hugo Souza


Começou na última terça-feira, 25, e vai até este domingo, 30, na cidade de
 São Paulo, no centro de eventos do Anhembi, a Expo Cristã, o maior evento
internacional de produtos e serviços para cristãos que existe atualmente.
 Lá estão desde o fenômeno da música gospel Aline Barros, até o fenômeno, 
digamos, de Jesus-business Josias Messias, que deu uma palestra sobre como
um negócio pode prosperar a partir do momento em que se permite deixar
 a excelência de Deus agir, passando por Fernando Haddad.
Fernando Haddad? Sim, o candidato do PT à prefeitura de São Paulo que 
ora leva uma surra de Celso Russomanno, do PRB (partido controlado pela
 Igreja Universal do Reino de Deus), nas pesquisas de intenção de voto.
A campanha de Haddad o colocou para entregar santinhos — sem trocadilho —
 na Expo Cristã, com direito a estande e tudo, depois que se constatou que o
 PT errou a mão no trato com os evangélicos logo na cidade com o maior
 número de templos evangélicos em todo o país, o que teria ajudado
 Russomanno a se consolidar junto aos rebanhos de seitas pentecostais.

O dia em que evangélico votar só em evangélico…

O que assuntou os petistas paulistas e os fez dar meia volta no sentido 
do altar — logo depois de o próprio Haddad ter feito duras críticas à mistura
 de religião com política — foi uma constatação que saiu da última pesquisa
 Ibope sobre as eleições na capital paulista. Segundo o Ibope, uma em
 cada cinco pessoas que tradicionalmente votam no PT é evangélica e,
 entre esses eleitores, 42% hoje declaram voto em Russomanno.
Números como esses, ou seja, estatísticas do jogo eleitoral “contaminadas
” pelo fenômeno nada religioso, mais sim bem mundano, da proliferação
 de igrejas pentecostais no Brasil, são cada vez mais comuns na conta
 eleitoral dos partidos políticos que a cada dois anos se acotovelam pelo
país disputando a preferência dos eleitores nos três níveis da administração 
pública. É cada vez maior a influência da religião nas estratégias eleitorais,
 alianças partidárias e discursos dos candidatos a toda e qualquer estirpe de
 cargo público eletivo.
Seria apenas mais uma tendência demográfica a chamar a atenção dos
 marqueteiros de campanhas se os evangélicos não fossem muito, mas
 muito mais politicamente atuantes — ainda que isso signifique usar a política 
em favor de suas respectivas seitas e contabilidades — do que, por exemplo, 
os católicos.
E assim, com candidatos não apenas adequando seu discurso ao gosto pentecostal,
 mas também redigindo propostas de legislatura e programas de governo para
atender suas demandas — a campanha de Haddad se apressou a falar na 
regularização dos prédios dos templos de São Paulo –, a democracia brasileira 
se vê hoje às voltas com eleições um tanto teocráticas, em grande parte balizadas 
por um credo multifacetado que já representa um segmento de 22% da população 
brasileira, e subindo.

Banner de pastor-candidato no altar

Como disse recentemente o vereador Carlos Apolinário (DEM), membro da bancada evangélica da Câmara de São Paulo, “o dia em que evangélico votar só em evangélico vamos fazer metade da Câmara e colocar um presidente no 2º turno das eleições”.
Se o Irã é um Estado islâmico e Israel é um Estado judeu, talvez o Brasil já esteja trilhando o caminho para se tornar uma República pentecostal, com direito a, quem sabe, sentenças de expiação vociferadas por eloquentes pastores suando de calor e raiva em seus distintos ternos e gravatas, com seus múltiplos microfones e diante do púlpito, a quem ousar discorrer sobre a natureza duvidosa do seu evangelho altamente monetizado e partidarizado.
Só a cidade de São Paulo tem 15 líderes religiosos evangélicos concorrendo à Câmara Municipal. Um deles, o pastor Everson Marcos, candidato pelo PSDB, botou tudo na ponta do lápis: ele pretende visitar 400 igrejas até o fim da campanha visando arrebanhar 160 votos em cada uma delas (ainda que a legislação proíba a campanha eleitoral em templos), o que lhe renderia algo em torno de 64 mil votos, o suficiente para que ele seja eleito.
E que dizer da notícia que chega da cidade de Itapetinga, no Piauí? Lá, um pastor-candidato chamado Valcilênio, do PT, mandou colocar um banner com o seu número eleitoral no altar da igreja de onde guia o seu rebanho — guia até as urnas.
Carlo leitor,
Você acha que, para um Estado laico, as eleições no Brasil estão demasiadamente, digamos, evangelizadas?
Você acha que a questão do “voto dos evangélicos”, com pastores candidatos ou feitos de cabos eleitorais, é uma versão benzida, por assim dizer, do voto de cabresto?
Corremos o risco de nos transformarmos em algo parecido com uma ‘República pentecostal’?
fonte
OPINIÃO&NOTICIA 

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