sexta-feira, 10 de agosto de 2012


CRÍTICA DE CINEMA

O Exercício do Poder, de

 Pierre Schöller

Filme sobre o cotidiano de um político francês estreia nesta sexta-feira,

 10, e levanta a dúvida: a política na França é diferente da política no Brasil?

por Francisco Taunay


Um filme francês sobre o cotidiano de um político, bem à moda dos 
filmes norte-americanos do gênero, comoTodos os Homens do
 Presidente, de Allan J. Pakula; é uma produção instigante, que prende 
a atenção através do próprio domínio da narrativa. Além do ritmo
 quase documental do filme, há espaço para ação e cenas surrealistas.
Na primeira cena vemos uma sala imponente, onde há um crocodilo 
no canto. Uma mulher nua avança, engatinhando, e adentra a bocarra
 do bichano: “Bertrand Saint-Jean, acorda!”
Ele atende o telefone e é informado sobre um grave acidente de 
um ônibus que caiu de uma ribanceira, matando 11 pessoas.
 Como ministro dos Transportes da França, ele vai até o local.
A partir daí acompanhamos a vida desse político, repleta de pressões
 e afetos que povoam o seu dia a dia. Esse filme contemporâneo, 
que mostra na TV os tumultos da Grécia, sob a égide da União 
Europeia, tem como principal catalisador da trama a situação da
 privatização das estações de trem na França. Pressionado pelo
 premier, um adepto da livre iniciativa, o ministro dos Transportes
 se prepara para ordenar a privatização, contra uma série de forças
 sociais que defendem seus direitos.
Essa situação cruciante — já experimentada, de forma análoga, aqui
 no Brasil, quando das privatizações de uma série de empresas na era
 FHC –, torna a vida do ministro dos Transportes absolutamente
 atribulada: existe a pressão do premier e também dos trabalhadores 
e sindicatos, contrários à esta, além do seu próprio chefe de gabinete,
 que pensa ser um crime esta privatização.
Abalado por este jogo de forças, o ministro se sente sufocado, e acaba 
por desenvolver uma amizade com seu novo motorista particular. O filme
 chega ao clímax em um acidente de carro, digno dos melhores filmes de
 ação, que transforma o ministro em uma espécie de herói nacional. 
O que ele vai decidir?
O Exercício do Poder é muito bem feito, com movimentos de câmera
 precisos e cenários perfeitos para ambientar o espectador nos cômodos
 dos palácios onde as decisões são tomadas. É interessante pensar que
 por trás de todo o jogo sujo da política, existe também gente bem
 intencionada, com interesses altruístas; pelo menos na política francesa!
Penso se no Brasil existiria um filme assim, que expõe virtudes, também
 possíveis, na política. Nossa imagem dos políticos é a pior possível, e o
 desenvolvimento econômico parece vir acompanhado pela rapinagem e
 egoísmo sem fim daqueles que detêm o poder. Mas acredito que existem
 aqueles bem intencionados, que pensam no bem público antes de tudo.
 Na França, que também não escapa da corrupção e maracutaias na política,
 existem mecanismos em prol da boa conduta de seus governantes.
O primeiro deles foi a guilhotina! Esta teve como facilitador o fato da capital
 política ser também o centro populacional da França. Aqui é diferente, pois
Brasília é uma cidade escondida, onde ninguém vê ninguém, perfeita para
 acobertar os devoradores do dinheiro público. Um outro mecanismo
 interessante é o funcionalismo público francês: todos os cargos de gabinete
 são preenchidos por pessoas que obrigatóriamente fizeram o curso que
 forma assessores e políticos na França. Por aqui, temos os apadrinhados,
 e os apadrinhados dos apadrinhados.
É importante que a sociedade crie mecanismos de controle, não somente
da corrupção como da boa gestão. Enquanto formos governados por
 coronéis, cujas famílias ascenderam ao poder através de grilagem de
 terras e chacinas, a situação dificilmente vai melhorar.
OPINIÃO &NOTICIA



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