CRÍTICA DE CINEMA
O Exercício do Poder, de
Pierre Schöller
Filme sobre o cotidiano de um político francês estreia nesta sexta-feira,
10, e levanta a dúvida: a política na França é diferente da política no Brasil?
Um filme francês sobre o cotidiano de um político, bem à moda dos
filmes norte-americanos do gênero, comoTodos os Homens do
Presidente, de Allan J. Pakula; é uma produção instigante, que prende
a atenção através do próprio domínio da narrativa. Além do ritmo
quase documental do filme, há espaço para ação e cenas surrealistas.
Na primeira cena vemos uma sala imponente, onde há um crocodilo
no canto. Uma mulher nua avança, engatinhando, e adentra a bocarra
do bichano: “Bertrand Saint-Jean, acorda!”
Ele atende o telefone e é informado sobre um grave acidente de
um ônibus que caiu de uma ribanceira, matando 11 pessoas.
Como ministro dos Transportes da França, ele vai até o local.
A partir daí acompanhamos a vida desse político, repleta de pressões
e afetos que povoam o seu dia a dia. Esse filme contemporâneo,
que mostra na TV os tumultos da Grécia, sob a égide da União
Europeia, tem como principal catalisador da trama a situação da
privatização das estações de trem na França. Pressionado pelo
premier, um adepto da livre iniciativa, o ministro dos Transportes
se prepara para ordenar a privatização, contra uma série de forças
sociais que defendem seus direitos.
Essa situação cruciante — já experimentada, de forma análoga, aqui
no Brasil, quando das privatizações de uma série de empresas na era
FHC –, torna a vida do ministro dos Transportes absolutamente
atribulada: existe a pressão do premier e também dos trabalhadores
e sindicatos, contrários à esta, além do seu próprio chefe de gabinete,
que pensa ser um crime esta privatização.
Abalado por este jogo de forças, o ministro se sente sufocado, e acaba
por desenvolver uma amizade com seu novo motorista particular. O filme
chega ao clímax em um acidente de carro, digno dos melhores filmes de
ação, que transforma o ministro em uma espécie de herói nacional.
O que ele vai decidir?
O Exercício do Poder é muito bem feito, com movimentos de câmera
precisos e cenários perfeitos para ambientar o espectador nos cômodos
dos palácios onde as decisões são tomadas. É interessante pensar que
por trás de todo o jogo sujo da política, existe também gente bem
intencionada, com interesses altruístas; pelo menos na política francesa!
Penso se no Brasil existiria um filme assim, que expõe virtudes, também
possíveis, na política. Nossa imagem dos políticos é a pior possível, e o
desenvolvimento econômico parece vir acompanhado pela rapinagem e
egoísmo sem fim daqueles que detêm o poder. Mas acredito que existem
aqueles bem intencionados, que pensam no bem público antes de tudo.
Na França, que também não escapa da corrupção e maracutaias na política,
existem mecanismos em prol da boa conduta de seus governantes.
O primeiro deles foi a guilhotina! Esta teve como facilitador o fato da capital
política ser também o centro populacional da França. Aqui é diferente, pois
Brasília é uma cidade escondida, onde ninguém vê ninguém, perfeita para
acobertar os devoradores do dinheiro público. Um outro mecanismo
interessante é o funcionalismo público francês: todos os cargos de gabinete
são preenchidos por pessoas que obrigatóriamente fizeram o curso que
forma assessores e políticos na França. Por aqui, temos os apadrinhados,
e os apadrinhados dos apadrinhados.
É importante que a sociedade crie mecanismos de controle, não somente
da corrupção como da boa gestão. Enquanto formos governados por
coronéis, cujas famílias ascenderam ao poder através de grilagem de
terras e chacinas, a situação dificilmente vai melhorar.
OPINIÃO &NOTICIA
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