segunda-feira, 31 de março de 2014

golpe militar


50 anos do golpe militar

Relembre as principais datas que marcaram a ditadura

 militar brasileira



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Professora, telegrafista e até o delegado de Vitória de Santo Antão entraram na lista de 21 acusados de subversão (© Estadão Conteúdo)

A resistência de uma pequena

 cidade de Pernambuco

Professora, telegrafista e até o delegado de Vitória de Santo
 Antão entraram na lista de 21 acusados de subversão


A professora foi para a rua liderar o levante contra o golpe. Os trabalhadores
 da estrada de ferro cruzaram os braços. O telegrafista disse para os primeiros
 soldados com carabinas nas mãos que não tinha condições de mandar 
mensagens. O delegado não aceitou as ordens do Exército. Diante da agitação, 
o comércio fechou as portas. A rádio AM foi tomada por defensores do presidente 
João Goulart e, pelo microfone, conclamou os ouvintes a resistir. O sindicalista 
resistiu e foi fuzilado num canavial. O corpo dele virou repasto de aves de rapina. 
Os militares forjaram um suicídio que indignou a família.
A crônica com tintas surreais dos primeiros dias de abril de 1964 em Vitória de 
Santo Antão, em Pernambuco, na época com 30 mil moradores - hoje sua 
população passa de 100 mil -, mostra que, na história do Brasil contada a 
partir do interior, o povo não assistiu, mais uma vez, bestializado, e os generais 
não esperaram o AI-5, quatro anos depois, para dar início à barbárie.
Veja mais sobre os 50 anos do golpe:
O delegado Edvaldo Rodrigues Cavalcanti entrou na lista de 21 acusados de 
subversão que teriam resistido ao golpe na cidade da Zona da Mata pernambucana. 
Foi expulso da Polícia Militar. Documento do Conselho Especial de Justiça do Exército,
 de dezembro de 1969, obtido pelo Estado, destaca que o ex-tenente "procurou sublevar 
o destacamento policial e até camponeses adestrados para uma reação ao movimento
 revolucionário". Esse personagem desconhecido afirmou, em sua defesa, que tinha
orgulho por jamais permitir que senhores de engenho colocassem as mãos em seu 
ombro e dissessem: "Meu delegado".
A paraibana Maria Celeste Vidal Bastos, na época com 37 anos, e o sindicalista 
pernambucano Luiz Serafim de Santana, 36, foram outros líderes do levante contra o golpe
 citados no documento. Na manhã do dia 1o de abril, eles convocaram trabalhadores dos
 engenhos para o levante. Centenas deles foram para a cidade com foices, enxadas e paus.
Eles ocuparam a Rádio Jurema. O comerciante José Lyra, 87 anos, lembra da passeata com
 pessoas erguendo varas com ossos amarrados para reclamar dos mortos nos canaviais. "
O Exército e a polícia apareceram. Foi um Deus nos acuda", relata.
Morte. Chegou à cidade a notícia de que o corpo do sindicalista Albertino José de Oliveira já
 estava em estado de putrefação na mata. A Secretaria de Segurança Pública disse que o
sindicalista morreu envenenado. A professora foi capturada num engenho próximo e levada
para o Recife, onde ficou presa por mais de três anos. Sofreu choques elétricos. Para o
 ex-telegrafista José Andrade de Oliveira, Maria Celeste era a grande líder da resistência
na cidade. "Cortava o cabelo bem curtinho para protestar."
Com o acirramento das disputas entre senhores de engenho e o grupo de Maria Celeste,
 a Igreja Católica, meses antes do golpe militar, afastou o padre Manoel Monteiro Neto,
 vigário da paróquia desde 1958. Ele estava envolvido no movimento camponês. Entrou
no lugar dele o padre Renato da Cunha Cavalcanti, filho de senhor de engenho. Hoje
com 82 anos, padre Renato permanece na paróquia de Vitória de Santo Antão e se
 recusa a entrar em divergências. Em entrevista ao Estado, reclama da primeira
 pergunta sobre "o dia do golpe". "Já começou mal a entrevista. Uns dizem que
 foi revolução", adverte. "O padre Manoel Monteiro Neto estava no meio das Ligas
Camponesas. Por isso, o bispo me mandou para cá."
Maria Celeste e Luiz Serafim decidiram fugir na noite de 2 de abril. Na manhã do dia 4,
 Vitória de Santo Antão estava cercada pelos militares. O levante contra o golpe durou
 36 horas. A ditadura mataria em outras cidades da região da cana seis lideranças rurais
ao longo de 1964. Não se sabe o número de trabalhadores mortos no período na área
pela rede de repressão. "Essas mortes foram praticadas muitas vezes por milícias de
 policiais à paisana, e comandadas por usineiros", destaca Amparo Araújo, secretária
de Direitos Humanos do Recife.
Em 21 anos de regime, o Exército só faria operações de guerra na zona rural, como as
ações contra a guerrilha do Araguaia, o Movimento de Libertação Popular (Molipo) e a
operação Pajuçara, de caça ao capitão Carlos Lamarca. Era no campo que o regime
 manteria os mais influentes agentes do Centro de Informação do Exército, motor da
repressão. As polícias se encarregariam, geralmente, de controlar as guerrilhas urbanas.?
Estudantes foram primeiros mortos no Recife. Uma das primeiras vítimas da ditadura
 militar era de uma família de homens que, ao longo do século, oscilaram entre a militância
 política e o quartel. O estudante pernambucano Ivan Rocha Aguiar, 21 anos, atingido
 por tiros na esquina da Avenida Dantas Barreto com a Rua Marquês do Recife, era
 neto de um chefe político que, nos anos 1920, espalhava cópias do Manifesto
Comunista, e filho de um ex-sargento do Exército que combateu revoltosos paulistas em 1932.
Naquele 1o de abril de 1964, Recife amanheceu com tropas do Exército nas ruas. Ivan
saiu cedo de casa para participar de uma passeata de apoio ao governador Miguel Arraes,
que estava cercado no Palácio do Campo das Princesas. Um irmão, o soldado Danúbio,
 20 anos, ficou preocupado e foi atrás de Ivan. Encontrou-o perto da Praça da Independência.
 Eram 16 horas. "Não vai aí na frente, não, porque a turma está muito agitada e o Exército
pode atacar", advertiu Danúbio. "Não vou deixar os companheiros", respondeu Ivan, que
 pegou uma bandeira de um colega e seguiu para a praça.
Minutos depois, a 300 metros, começaram os tiros. Estudantes só tinham cocos e pedras
nas mãos. "Uma tropa atirou com metralhadoras", lembra Danúbio, que não viu mais
 o irmão. Horas depois, soube que dois estudantes tinham sido baleados. Um deles era
Jonas José de Albuquerque e o outro, Ivan. "Havia ali polícia e Exército, não sei de onde
partiram os tiros." Segundo testemunhas, um colega de Ivan tentou socorrê-lo. "Não
aguento, Florêncio, estou cansado", teria dito Ivan. O amigo correu. Uma viatura
 estacionou. "Disseram-me que ele estava ainda com vida quando entrou no camburão"
, afirma Danúbio.
FONTE

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