segunda-feira, 27 de abril de 2015

Papa Francisco recebe o líder do MST, João Pedro Stedile!

Papa Francisco recebe 

o líder do MST, João

 Pedro Stedile!

E agora, o que vão dizer a bancada ruralista e o deputado Ronaldo 
Caiado? O Papa Francisco teve um encontro no Vaticano com o 
líder do Movimento Sem Terra, João Pedro Stedile na semana passada!
Sim, é verdade verdadeiríssima, apesar de a mídia nacional desconhecer
 (ou ter ignorado) o que a foto acima atesta.
O encontro mereceu matéria de primeira página no jornal italiano Il Fatto
 Cotidiano e foi reportado na página do MST e nos blogs Viomundo e
 O Escrivinhador, com  tradução de Moisés Sbardelotto.
A reportagem, constando também de uma entrevista, destaca a 
importância de Stedile como liderança na organização dos agricultores,
 com 1,5 milhão de membros, e lembra que o MST foi imortalizado em 
imagens históricas do fotógrafo Sebastião Salgado em sua “caminhada
 de 30 anos feita de vitórias e de derrotas”.
Entre outras coisas, enfatiza que João Pedro é um marxista ligado à 
Teologia da Libertação, que jamais usou gravata e “desempenhando
 o papel de porta-voz de uma realidade pobre, em busca da sua própria
 emancipação”.
Ele foi um dos organizadores do Encontro Mundial de Movimentos 
Populares acontecido semana passada no Vaticano, na sala do Velho 
Sínodo, onde sugeriu até a canonização de “Santo Antônio… 
Gramsci”, para desconforto de vários presentes.
Ao falar, Stedile explicou que o MST cultiva uma relação “leiga” com
 o poder, ou, como disse, de “autonomia absoluta”. Por isso, na última
 eleição brasileira, apesar de não se envolver muito no primeiro turno
 eleitoral, depois apoiaram Dilma Rousseff no segundo.
Pincei e sintetizei trechos da entrevista:
Como nasceu o encontro no Vaticano?
“Foram movimentos sociais da Argentina, formados por amigos do
 papa Francisco, com os quais o MST começou a trabalhar, que
 possibilitaram esse encontro mundial no Vaticano, reunindo 100
 dirigentes populares de todo o mundo, sem confissões religiosas. 
A maioria não era católica. Um encontro muito proveitoso”.
Uma declaração sua sobre o Papa
“O papa deu uma grande contribuição, com um documento
 irrepreensível, mais à esquerda do que muitos de nós. Porque afirmou 
questões de princípio importantes como a reforma agrária, que não
 é só um problema econômico e político, mas também moral. De fato, 
ele condenou a grande propriedade. O importante é a simbologia: 
em 2.000 anos, nenhum papa jamais organizou uma reunião desse tipo com movimentos sociais”
O que resulta desse encontro?
“Do encontro com Francisco, nascem duas iniciativas: formar um espaço de diálogo permanente com o Vaticano e, independentemente da Igreja, mas aproveitando a reunião de Roma, construir no futuro um espaço internacional dos movimentos do mundo”.
“Para combater o capital financeiro, os bancos, as grandes multinacionais. Os “inimigos do povo” são esses. Como diria o papa, esse é o diabo. Mesmo que todos nós vivamos o inferno”.
“Os pontos traçados do encontro de Roma são muito claros: a terra, para que os alimentos não sejam uma mercadoria, mas um direito; o direito de todos os povos de terem um território, seu próprio país, pense-se nos curdos de Kobane ou nos palestinos; um teto digno para todos; o trabalho como direito inalienável”.
No Brasil, vocês apoiaram a eleição de Dilma Rousseff. Qual é a sua opinião sobre o governo do PT e o seu futuro?
“A autonomia, para nós, é um valor importante. O PT geriu o poder com uma linha de “neodesenvolvimentismo”, mais progressista do que o neoliberalismo, mas baseada em um pacto de conciliação entre grandes bancos, capital financeiro e setores sociais mais pobres”.
“A operação de redistribuição da renda favoreceu a todos, mas principalmente os bancos. Agora, porém, esse pacto não funciona mais, as expectativas populares cresceram”.
“O ensino universitário, por exemplo, integrou 15% da população estudantil, mas os 85% que ficaram de fora pressionam para entrar. Só que, para responder a essa demanda, seria preciso ao menos 10% do PIB, e, para levantar recursos desse tamanho, se romperia o pacto com as grandes empresas e os bancos”.
Então?
“O governo tem três caminhos: unir-se novamente à grande burguesia brasileira, como lhe pede o PMDB, construir um novo pacto social com os movimentos populares ou não escolher e abrir uma longa fase de crise”.
“Nós queremos desempenhar um papel e, por isso, propomos um plebiscito popular para uma Assembleia Constituinte para a reforma da política. A força do povo não está no Parlamento”.
Finalizando:
“A nossa ideia, no início, era a de realizar o sonho de todo agricultor do século XX: a terra para todos, bater o latifúndio. Mas o capitalismo mudou, a concentração da terra também significa concentração das tecnologias, da produção, das sementes. É inútil ocupar as terras se, depois, produzirem transgênicos. Não é mais suficiente repartir a terra, mas é preciso uma alimentação para todos, e uma alimentação sadia e de qualidade”.
“Hoje visamos a uma reforma agrária integral, e a nossa luta diz respeito a todos. Por isso, é preciso uma ampla aliança com os operários, os consumidores e também com a Igreja. Somos aliados de qualquer pessoa que deseje a mudança”.

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