TENDÊNCIAS E DEBATES
Anvisa reavalia herbicida
apontado como ‘provável
cancerígeno’ pela OMS
Reavaliação do herbicida glifosato se arrasta na Anvisa há sete anos.
Agência diz que estudo da OMS 'é relevante’ e que deve 'rever suas prioridades'
Um comitê de especialistas da Agência Internacional de Pesquisa sobre o
Câncer (Iarc, em inglês), vinculada à OMS, divulgou um estudo na última
sexta-feira, 20, classificando o herbicida mais vendido no mundo, o glifosato,
como “provavelmente cancerígeno para seres humanos”. Um relatório com suas
conclusões foi publicado no jornal Lancet, e a agência prometeu, em breve, lançar
um livro de 400 páginas com informações mais detalhadas.
O anúncio preocupa porque o glifosato é um dos pilares da agricultura mundial.
No Brasil, 30% das vendas de agrotóxicos correspondem a produtos à base de
glifosato. O segundo ingrediente ativo mais usado é o óleo mineral, que
representa 7% das vendas.
A OMS não tem autoridade reguladora, mas suas recomendações devem servir
como um alerta. No Brasil, a responsabilidade de calcular o risco de agrotóxicos
é da Anvisa, agência de vigilância sanitária criada em 1999, quase 20 anos depois
de o Ministério da Agricultura autorizar o primeiro uso do glifosato no Brasil.
Questionada sobre o impacto do estudo da OMS, a Anvisa disse ao O&N que o
glifosato está em processo de “reavaliação”. No entanto, o glifosato está na
lista de produtos que precisam passar por reavaliação toxicológica há mais de
sete anos. “Existem outras prioridades que estavam sendo concluídas
prioritariamente”, justificou-se a Anvisa. “Mas, frente às divulgações do Iarc,
a Agência reverá as prioridades de reavaliação. Certamente as informações
descritas no estudo são relevantes para a sua conclusão”.
Agricultores gostam do glifosato porque muitas culturas transgênicas, incluindo
milho, soja e algodão, foram geneticamente modificadas para sobreviver a ele
. Os agricultores podem pulverizá-lo sobre campos inteiros e matar as ervas
daninhas sem comprometer suas culturas. Quanto mais sementes transgênicas
resistentes ao herbicida são aprovadas, mais aumenta o uso do glifosato.
No último dia 5, o governo brasileiro aprovou o uso comercial de duas novas
variedades de milho transgênico, uma delas resistente ao glifosato.
A dose faz o veneno
O engenheiro agrônomo Rubens Nodari, professor da Universidade Federal de
São Carlos (UFSC) e ex-membro da Comissão Nacional de Biotecnologia (CTNBio)
teme que os interesses econômicos e a pressão das grandes fabricantes de
agrotóxicos orientem as decisões da Anvisa sobre a segurança desses produtos.
Nodari explicou ao O&N que, a princípio, no Brasil, o limite máximo de resíduos
de glifosato permitido na soja, cultura que representa 50% do consumo de
agrotóxicos no país, era de 0,2 ppm (partes por milhão). Às vésperas da liberação
da soja transgênica, em 1998, este limite foi alterado para 20 ppm, ou seja,
aumentou em 100 vezes. Logo depois, a agência voltou atrás e baixou
para 2,0 ppm. Em 2004, o órgão ampliou novamente o limite para 10 ppm
(50 vezes a dose inicial).
“Como é que um produto que era considerado tóxico de repente passa a ser
considerado menos tóxico?”, questiona Nodari. “O produto não foi alterado, e
em um curto espaço de tempo passou por quatro classificações diferentes. Hoje
existem centenas de estudos indicando que ele é um desregulador endócrino, que
mata organismos aquáticos, que causa câncer em ratos. Se ingerido, ele vai acionar
genes em momentos errados, em lugares errados. E as pessoas estão se
alimentando de glifosato.”
Monsanto rebate estudo da OMS
A fabricante Monsanto inventou o glifosato em 1974 e o transformou no agrotóxico
mais vendido no planeta em meados de 1990, com a introdução de alimentos
transgênicos resistentes. Em nota postada em seu site, a empresa afirma ter ficado
“indignada” com as conclusões do estudo da OMS:
“Esta descoberta é inconsistente com décadas de amplas avaliações de segurança
por parte das principais autoridades reguladoras de todo o mundo, que tem
concluído que todo uso rotulado do glifosato é seguro para a saúde humana”, diz a nota.
Para Nodari, no entanto, não há dúvida. Se os governantes tem responsabilidade
de zelar pela saúde, deviam proibir o glifosato o quanto antes. “É um crime
contra o país o que a Anvisa está fazendo de manter esse produto permitido.
Ele devia ser proibido porque causa muitos danos a todo o tipo de organismo.
O país tem que tomar uma decisão.”
fonte OPINIÃO&NOTICIA
Uma correção e um comentário: O Prof. Nodari é da UFSC (Santa Catarina, não é São Carllos).
ResponderExcluirQuanto à afirmação de que a gente come glifosato, ele está profundamene enganado.