E os 23 milhões de propina ao
Serra? Pergunta lá no Posto Ipiranga
A ideia da empresa que criou essa bem-humorada e envolvente peça publicitária, a Talent, é passar a imagem de que a rede de postos de combustíveis é completa, tem tudo o que o consumidor precisa e é conhecida nos lugares mais inóspitos por todo tipo de gente.
A frase “Pergunta Lá No Posto Ipiranga” virou
um bordão para perguntas difíceis.
Para o ícone da publicidade, Nizan Guanaes,
“se você quer saber o que é propaganda que vende,
de onde veio, para onde vai, se é digital,
tradicional etc.; é fácil encontrar a resposta.
Pergunta lá no posto Ipiranga.”
Só que às vezes aparece um aloprado que acaba
transformando uma genial criação de marketing
numa faca de dois gumes.
O dono do posto Ipiranga na Av. 13 de Maio, 756,
em Ribeirão Preto (SP),
Silvio Capelão, tem por hábito promover
protestos com faixas no
estabelecimento contra o PT, Dilma e Lula.
No Facebook, o empresário declarou apoio ao
impeachment e compartilhou
montagens grotescas da ex-presidenta e até foto de manifestação que pedia
a volta dos militares.
É um legítimo aloprado garoto propaganda da
direita raivosa.
O limite da liberdade de expressão está sendo
questionado por meio de
uma peticão virtual com mais de cinco mil
assinaturas, que sugere “Boicote
ao Posto Ipiranga por calúnia e difamação
contra LULA.”
A falta de bom senso do empresário é que parece
não ter limite, pois a faixa
constrange clientes e impõe discriminação de
natureza política.
Ao posto que a propaganda insinua que há
resposta pra tudo, dá pra encaminhar
várias perguntas difíceis sobre mensalões,
trensalão e petrolão, mas sugiro recentes:
– Por que a imprensa tem ignorado delação
da Odebrecht que revela o pagamento
de R$ 23 milhões a José Serra, candidato
tucano à presidência da República,
em 2010, em forma de propina, via caixa 2,
numa conta secreta na Suíça?
– Por que Temer não pediu ou mandou Serra
deixar o ministério antes que os
executivos da empreiteira entreguem os
recibos dos depósitos, que corrigidos
pela inflação chegariam a mais de R$ 34 milhões?
– Por que os parlamentares querem mudar às
pressas regras para acordos
de leniência e beneficiar empresas investigadas
pela Operação Lava Jato,
na iminência da delação bombástica da Odebrecht?
– Anistiar caixa 2 e reduzir punições a empresas
envolvidas em corrupção não
comprova o roteiro do “Pacto” nacional para
estancar a sangria da Lava Jato?
– Por que o relator do projeto de Lei 4850/16
que contempla as Dez Medidas
de Combate à Corrupção, deputado Onix
Lorenzoni, aceitou retirar do texto a
previsão de crime de responsabilidade para
integrantes do Ministério Público e juízes?
– E a propina de 1 milhão de reais que Otávio
Azevedo, ex-presidente da Andrade
Gutierrez, disse que deu à chapa Dilma/Temer e
que confere com um cheque
nominal do PMDB a Temer?
– Até dezembro rola mesmo a delação que
envolve 70 executivos
e ex-executivos ligados ao grupo Odebrecht
que promete esclarecer
desvios estimados entre R$ 6 bilhões e
R$ 7 bilhões?
Como dito, são perguntas difíceis.
Talvez no Posto Ipiranga do Silvio Capelão,
antipetista convicto e
militante, haja resposta pra todas.
Por telefone, nesta quinta-feira (16), a atendente
disse que os
protestos – só contra petistas investigados
– são comuns no posto
e que não podia confirmar se havia alguma
faixa pendurada hoje,
porque “não dava pra ver”.
Eu, claro, usei o bordão: pergunta
lá no Posto Ipiranga!
Luciana Oliveira
Jornalista de Porto Velho, Rondônia, e
membro da Comissão Nacional de Blogueiros
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