RISCO DE VIDA EM TERRA BRASILEIRA
A FALTA DE HIGIENE É APONTADA COMO A PIOR CAUSA
SEGUIDA DE ALIMENTOS MAL CONSERVADOS
Quem nunca teve um mal-estar, acompanhado de dor de barriga e vômitos
depois de comer alguma coisa na rua?
Só no ano passado, o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), do
governo do Estado de São Paulo, notificou 7253 casos de doenças
transmitidas por água e alimentos (DTA) – tendo como agentes
bactérias como a Salmonella e a E. coli, entre outras. Desse total, foram
384 surtos e seis óbitos.
O perigo que pode estar no carrinho de cachorro-quente e no restaurante
próximo ao trabalho também pode ser encontrado na geladeira de casa.
“Todos os alimentos são de riscos se preparados sem higiene e/ou mantidos
sem refrigeração ou aquecimento adequado”, alerta Maria Bernadete de
Paula Eduardo, diretora da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e
Alimentar do Centro de Vigilância Epidemiológica/SES-SP. Cuidados com a
Na rua
Alguns alimentos exigem cuidado dobrado antes de serem colocados no prato,
ainda mais quando não se conhece a sua procedência. Confira os cinco
alimentos mais relacionados a riscos de contaminação nas ruas:
Ovo
Pode abrigar a bactéria Salmonella, que causa diarreia, febre e vômitos,
e até óbito em crianças, gestantes e pessoas com o sistema imunológico
debilitado. “O maior risco é ingerir mal cozido (com a gema mole) ou cru
(usado em alguns preparos como a maionese)”, alerta a nutricionista
Patrícia Ramos, coordenadora do Serviço de Nutrição do Hospital
Bandeirantes, de São Paulo.
Segundo o biomédico Roberto Figueiredo, o Dr. Bactéria, um em cada 200
ovos em uma granja pode conter a Salmonella. A dica é optar pelo produto
pasteurizado. “O processo de pasteurização elimina a bactéria”, diz o
especialista. Acontece que na rua nem sempre é possível confiar na
procedência do alimento.
“Se o ovo estiver contaminado, a alta temperatura do cozimento será
capaz de eliminar o microorganismo”, completa a nutricionista Jaqueline
Bernardini, da Clínica Medicina Integrada, de São Paulo.
Folhas
Larvas e bactérias podem estar escondidas entre as folhas verdinhas
expostas nas travessas dos restaurantes a quilo. “Só lavar com água
não basta. É preciso realizar uma desinfecção química para eliminar os
microorganismos”, explica a nutricionista Patrícia Ramos. Isso significa que
antes de serem oferecidas ao consumo, as verduras devem ficar
mergulhadas por pelo menos 15 minutos em uma mistura de água e
água sanitária (hipoclorito de sódio) – para cada litro de água, uma
colher de sopa de água sanitária de boa procedência e não odorizada.
Não é o caso de eliminar a salada do prato, claro. “Mas fique atento à
higiene do local e às condições de preparo e armazenamento dos
alimentos”, reforça Maria Bernadete de Paula Eduardo, do CVE.
Carnes
Espetinhos, churrasquinhos, sanduíches de carne assada podem conter
a bactéria Clostridium perfringens, causadora de cólicas e diarreia. Esse
microorganismo é resistente muitas vezes até ao cozimento. “A carne deve
ser armazenada sempre em temperatura inferior a cinco graus. Na hora de
consumir, opte pela preparada na hora e bem passada, sendo mantida acima
de 60 graus”, ensina Dr. Bactéria.
Cachorro-quente
O problema principal está na salsicha, que pode conter a bactéria Listeria
monocytogenes. Após sua ingestão, costumam aparecer diarreia e fortes
cólicas abdominais, por 24 horas. Não é indicado consumir a salsicha que
esteja fora de refrigeração, crua ou aquela mergulhada há horas na panela
do carrinho de cachorro-quente, a não ser que a água emane vapores, isto
é, esteja acima de 60 graus.
“Ela deve ser cozida na hora e por cinco minutos após levantar fervura”,
aconselha Dr. Bactéria. Cuidado ainda com o purê que acompanha o
sanduíche: por ser preparado com leite e muitas vezes ficar exposto
inadequadamente – o que também pode causar problemas.
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Maionese
Para passar a ideia de saborosa e sem aditivos químicos, muitos
comerciantes oferecem a “maionese caseira”. Além do risco da contaminação
pelo uso de ovos crus no preparo, a falta de higiene da embalagem
(bisnagas) e a refrigeração inadequada transformam o alimento em uma
bomba de contaminação.
“Nunca coma maionese feita com ovos crus ou em embalagens que ficam
fora da geladeira. Prefira os sachês industrializados para maionese,
mostarda e catchup”, diz Maria Bernadete.
Em casa
Nem a segurança do lar está imune aos microorganismos. Aliás, pesquisas
apontam que a maior parte dos casos de contaminação acontece dentro de
casa. Conheça os top 5 da contaminação residencial.
Sobras do almoço
Aquele arroz com feijão que sobrou do almoço podem ficar para o jantar e
até para o dia seguinte. Desde que manipulados de maneira adequada.
“Tire das panelas, acondicione-os em outro recipiente e leve-os à
geladeira”, ensina Jaqueline Bernardini.
“Pode guardá-los até mesmo quentes. Isso não estraga a geladeira, nem
a comida”, diz Dr. Bactéria. Mas até que esfriem, mantenha o recipiente
aberto. “Aquelas gotículas de água que se formam na tampa (umidade)
podem facilitar a proliferação de bactérias”, completa a nutricionista.
A geladeira doméstica geralmente trabalha a 10 graus: nessa temperatura
é capaz de conservar a comida por 24 horas. Se estiver a cinco graus, o
prazo se estende até três dias. Agora, se a sobra foi grande e não será
consumida rapidamente, melhor congelar.
Frios
Retire-os da embalagem original e coloque-os em recipientes com tampas.
Na hora de se servir de uma fatia, utilize um garfo, evitando manipular o
alimento com as mãos. “Consuma-os em até dois dias”, sugere a nutricionista
da Clínica Medicina Integrada. Ranço e gosma na superfície dos frios
significam microorganismos em ação – e problemas de contaminação na
certa se forem ingeridos.
Bolo de aniversário
Geralmente recheados e preparados com leite e ovos, eles costumam ficar
expostos, enfeitando a mesa do aniversariante.
“Esse tipo de alimento não pode ficar mais de duas horas em temperatura
ambiente, sob o risco de favorecer a proliferação de bactérias e toxinas”,
alerta Dr. Bactéria.
Mas o risco maior está na hora de apagar as velinhas. “O aniversariante assopra
e espalha gotículas de saliva cheias de Staphylococus aureus, que podem
produzir toxinas que provocam intoxicações com náuseas e vômitos.
Palmito
Ao comprar o produto verifique as informações da embalagem: o rótulo deve
conter a data de validade, o número do lote e os dados do fabricante. Um alimento
de má procedência pode conter a toxina botulínica, bactéria transmissora do
botulismo, doença que pode levar à morte.
”Palmito em conserva só deve ser adquirido de marca e estabelecimentos
confiáveis. Por ser um vegetal mole, ele não resiste a altas temperaturas e
para que não venha desenvolver a toxina botulínica deve ser preparado
industrialmente com quantidades de ácido e sal adequadas. As conservas
clandestinas, caseiras ou adquiridas em beira de estrada são de extremo
risco”, avisa Maria Bernadete, do CVE. E antes de consumi-lo em casa,
a recomendação é fervê-lo durante 10 minutos.
Enlatados
O cuidado aqui é com a embalagem. “As latas têm um verniz interno, que
preserva seu conteúdo. Pequenas batidas podem romper essa proteção
e comprometer o alimento”, diz a nutricionista Patrícia Ramos. É importante
também higienizá-las (lavar com água e detergente) antes de abri-las.
“Ao abrir, verifique se não contém bolhas, como se estivesse fermentado.
Drene a água e consuma ou prepare imediatamente. Se não for utilizar todo
conteúdo da lata, retire da embalagem, coloque em outro recipiente com
tampa, marque a data e consuma em até três dias”.
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