A OPINIÃO PÚBLICA ÁRABE
O que os árabes pensam
sobre o Oriente Médio?
Pesquisa de opinião feita com 20.000 pessoas em 14 países árabes
oferece um vislumbre da opinião árabe sobre o Oriente Médio
Os últimos dois anos e meio foram dos mais interessantes da história
do Oriente Médio contemporâneo. Revoluções populares derrubaram
ditadores na Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen, e provocaram uma guerra
civil na Síria. Elas também abriram as portas para um retorno do
islamismo, atiçaram a retórica sectária, conflitos civis sobre a natureza
do estado e uma guerra regional – e global por tabela – à medida que
potências rivais apoiaram lados opostos na Síria. Então, o que as
pessoas da região pensam dessa época turbulenta?
Uma pesquisa de opinião recente com 20.000 pessoas em 14 países
árabes conduzida pelo Centro Árabe de Pesquisas e Políticas Públicas,
um centro de estudos baseado em Doha, oferece alguns insights. Embora
as más notícias chamem mais atenção no Ocidente, desenvolvimentos
positivos também são perceptíveis, tal como um aumento da liberdade
de expressão. Dentre aqueles entrevistados, 61% encaram a Primavera
Árabe como positiva, enquanto 22% a tomam por algo negativo. Embora
os rebeldes sírios estejam perdendo apoio à medida que a guerra se torna
mais sanguinária e os jihadistas mais numerosos, poucos acham que o
presidente Bashar Assad seja a solução – 66% acreditam que seu regime
deveria ser derrubado. Apenas 3% acham que os rebeldes sírios deveriam
ser aniquilados. Infelizmente, para aqueles que estavam contando com
um acordo de paz negociado, apenas 10% dos árabes acham que este é o
melhor meio de resolver a situação.
A maioria dos participantes, que responderam às perguntas entre julho
de 2012 e março deste ano, desejam a democracia e um sistema pluralista em
que todos os partidos, religiosos ou não, possam competir. Eles também
querem que a influência de autoridades religiosas sobre o poder público
seja reduzida. Mas os respondentes se dividiram sobre a questão da
separação entre religião e política – a maioria não vê problema na participação
de partidos religiosos em eleições. A metade afirma que não está preocupada
com a crescente influência dos muçulmanos, enquanto que pouco mais de um
terço expressou alguma preocupação, incluindo os 15% daqueles que se
consideram extremamente preocupados; visões evidentes no Egito, onde
protestos contra a Irmandade Muçulmana, que está no poder, estão
planejados para 30 de junho.
Embora cada país esteja tendo uma experiência própria, a maioria dos
respondentes se identifica com uma identidade pan-árabe. Quase 80% acha
que os árabes compõem uma nação única; 75% é a favor de uma maior
integração entre os países. A grande maioria é contra o reconhecimento
oficial de Israel, e 36% acredita que o país é a maior ameaça à segurança de
seu próprio país. Outros 11% concedem essa honra aos EUA; um ponto
percentual a menos do que o grupo que considera o Irã a maior ameaça.
No Iêmen, Iraque, Kuwait e Arábia Saudita, os países que competem com
a República Islâmica por influência regional, mais de um terço considera
que o Irã representa a maior ameaça.
A pesquisa também destrói alguns mitos. O Twitter e o Facebook foram
úteis em reunir pessoas e publicar notícias durante as revoluções, mas no
mundo árabe a internet continua a ser um fenômeno de elite: 55% das
pessoas nunca usaram a rede, e a televisão mantém o seu posto de
veículo das massas.
Texto da revista Economist editado para o Opinião e Notícia
Tradução: Eduardo Sá
Fontes: The Economist-What Arabs think
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