terça-feira, 4 de setembro de 2012

SIRIA S.O. S


 
MSF_Conflitos Siria.jpg

21 de agosto de 2012 - Médicos Sem Fronteiras tem atuado na Síria há
 dois meses, tentando levar
 assistência humanitária às pessoas afetadas pelo conflito. Com a ajuda de um 
grupo de médicos sírios, uma equipe conseguiu transformar, em apenas seis dias,
 uma casa abandonada em um hospital de emergência, onde pessoas feridas
 puderam ser operadas e hospitalizadas.
  
Até meados de agosto, MSF admitiu mais de 300 pacientes e conduziu mais de 150
 cirurgias. Os ferimentos apresentados têm sido em grande parte relacionados a 
conflitos e causados, em sua maioria, por bombardeios. Muitos pacientes têm 
ferimentos a bala. Os feridos são, em sua maioria, homens, mas, as mulheres
 representam um em cada dez casos e cerca de um em cada cinco tem menos de
 20 anos. De acordo com a equipe médica, dois terços dos procedimentos
 realizados foram cirurgias de emergência.

No entanto, o futuro do projeto é incerto. Além do fato de MSF estar atuando no
 país sem autorização das autoridades sírias, nossas atividades estão ameaçadas
 pelas constantes mudanças de natureza do conflito, pela dificuldade de acesso a 
suprimentos e pelos desafios que os feridos têm de enfrentar para chegar ao hospital.

Considerando a intensidade da violência atual na Síria, a equipe de MSF, com 
seus profissionais locais e estrangeiros, pode apenas garantir suporte médico
 limitado. A assistência, no entanto, não deixa de ser essencial para a sobrevivência
das pessoas tratadas no hospital.

Para os profissionais de MSF que estiveram trabalhando na Síria, os pacientes e os 
tipos de ferimentos tratados pelas equipes cirúrgicas são testemunhos do uso de
 artilharia pesada e da violência de uma guerra que não poupa civis. 
 
 “Feridos começaram a chegar de todos os cantos”
 
A cirurgiã Anna Nowak participou de mais de 20 projetos de MSF. Ela 
acaba de volta
r da Síria, onde ajudou a instalar o projeto.
 
Como foi possível estruturar um projeto de emergência sem
 autorização 
oficial das autoridades sírias?
Com o apoio de um grupo de médicos sírios, pudemos identificar um
 local para conduzir
cirurgias. Após uma breve visita, optamos por atuar em um casarão 
vazio. A casa de dois
 andares e oito cômodos estava ainda em construção, mas não 
tínhamos outra escolha. 
Por seis dias, trabalhamos arduamente para transformar aquele lugar 
em um hospital 
cirúrgico com doze leitos, uma ala de esterilização, uma sala de 
cirurgias, uma sala de
 reanimação para emergências e um quarto para recuperação. 
Além das dificuldades 
acerca do recrutamento de profissionais médicos locais, tivemos 
de solucionar
 problemas de suprimento, sabendo dos riscos de importar ou comprar
 suprimentos médicos na Síria.
 
Em que condições você começou a realizar cirurgias?
Os primeiros pacientes chegaram em 22 de junho, um dia depois de 
inaugurarmos
 o hospital. Primeiramente, internávamos pessoas feridas que já haviam 
sido operadas.
 Infelizmente, tivemos de fazer isso em condições de higiene ruins, o que 
geralmente significa um maior risco de infecção. Com o irrompimento de
 novos conflitos,
 o hospital rapidamente chegou ao seu limite. Depois de alguns dias, 
chegamos a receber
 até seis pacientes de uma vez, um número relativamente modesto, mas
 consideravelmente
 elevado, levando-se em conta nossos recursos e a capacidade para
 tratamento. Então,
 pessoas feridas começaram a chegar de todo canto. Tivemos de 
improvisar outras formas
 de acomodar as pessoas, mesmo que isso significasse colocar camas
 no terraço. Algumas
 vezes, os feridos não chegavam até nós durante o dia por conta dos
 conflitos, por causa
 das ruas bloqueadas ou porque o trajeto até o hospital era arriscado.
 Por vezes, eles
 chegavam à noite ou ao amanhecer. Era cansativo, embora
 pudéssemos contar com
 a ajuda dos acompanhantes dos pacientes. A abertura dessas
 pessoas e sua vontade 
de ajudar é realmente tocante. 

Que tipos de cirurgia você tem visto?
Temos visto muitas pessoas com ferimentos a bala, atingidas por
 fogo de morteiros
 ou artilharia. Os ferimentos mais comuns têm atingido os membros 
das pessoas, a 
região do estômago ou entre o pescoço e o abdômen. Apesar de a 
maioria dos
 pacientes serem homens, mulheres e crianças também têm surgido,
 e, muitas vezes,
 tarde demais. No momento, há um conflito com bombardeios a 
cerca de dez
quilômetros de nossa instalação. Mas os pacientes, às vezes, vêm 
de longe,
 correndo o risco de agravar seus ferimentos ou mesmo morrer.
 Isso nos faz pensar
 sobre os obstáculos que impedem a prestação de serviços de saúde 
de qualidade na
 Síria atualmente, incluindo aqueles necessários a pessoas cujos
 ferimentos não têm
 relação com os conflitos, como os que sofrem acidentes de carro.

Quais são as principais dificuldades envolvidas em projetos 
como este?
Para reduzir os riscos, a equipe médica na Síria está trabalhando de 
forma discreta e
 cautelosa e muitos dos hospitais em campo desaparecem com a mesma 
rapidez com que 
surgem. Nesse contexto, a existência de uma instalação como a nossa
 é muito importante 
para os feridos que precisam de assistência, mas é também uma
 situação muito delicada.
 Restrições em relação à segurança limitam nossos recursos e
 capacidade. Um ferimento
 típico de guerra demandaria uma média de cinco dias de internação.
 Com exceção dos
 casos mais sérios, nós, por vezes, temos dificuldade para manter as 
pessoas nos hospitais
 por mais tempo do que isso. Pacientes que moram próximo do 
hospital ou que estão
 hospedados com familiares e amigos nas redondezas podem 
retornar para
 acompanhamento ou para fazer curativos. Mas mesmo havendo 
grande 
solidariedade entre as pessoas daqui, e muitos pacientes 
conseguem se manter
 nas redondezas temporariamente, alguns deixam o hospital 
e nós nunca mais
 sabemos deles.


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