ENDÊNCIAS E DEBATES
Começa julgamento dos
aloprados com pedigree
Até que ponto esta expiação que se clama para os réus do mensalão
não serve ao próprio PT, no sentido de reforçar o discurso do 'eu não sabia'?
Começou nesta quinta-feira, 2, no Supremo Tribunal Federal, o tão aguardado julgamento de 38 réus que responderão pelo maior escândalo de corrupção do governo Lula, o chamado mensalão, nome fantasia para um sistema de compra de votos não mediante a liberação de emendas parlamentares ou arranjos partidários, mas sim de suborno mesmo, o clássico, aquele da grana viva na palma da mão em troca do “deixe-me passar”.
Leia também: Mensaleiros: culpados ou inocentes?Leia também: STF decide julgar os 38 réus do mensalão
No caso do mensalão, o “deixe-me passar” era referente a projetos
do interesse do Poder Executivo aprovados no Congresso Nacional
não exatamente por causa dos seus respectivos méritos, mas sim porque
tudo estava, digamos, azeitado para um amém atrás do outro às vontades
do governo federal.
O julgamento começou em meio a um forte frisson nacional, com as ruas
mandando um claro recado aos ministros do STF: nada de absolvição!
Um velho sentimento de
impunidade açulado por semanas de martelamento por parte da mídia da
ideia de que o país estava às
vésperas do “julgamento do século”.
Nuances que cercam o julgamento
Entretanto, como é de praxe nos momentos de clamores populares
incensados pela mídia, não há muito espaço para questionamentos
necessários a tudo o que cerca a aparentemente muito politizada
pressão das ruas. Agora, em meio às convocatórias da TV e dos jornais
para acompanhar em tempo real o que vem sendo vendido como “um
evento histórico”, o senso crítico parece embaçado demais para que seja
possível se questionar acerca das nuances que cercam o julgamento do mensalão.
Nas semanas anteriores ao julgamento, revimos os protagonistas do caso
dando declarações estapafúrdias, fazendo ironias teatrais à luz dos holofotes,
trocando acusações de maneira constrangedora, um dizendo que nunca antes
(na história deste país?) havia estado na frente do outro. Ao mesmo tempo,
pouco se viu e ouviu alusões ao fato de que o julgamento e todo o circo que
se arma em torno dele pode acabar servindo como uma luva logo a quem talvez devesse estar ocupando o lugar central no banco dos réus.
Lula, o eterno traído…
De todas as manifestações públicas das figuras públicas envolvidas direta ou
indiretamente no escândalo do mensalão, uma das que mais chamou a atenção
foi quando o então presidente Lula foi a TV dizer que nunca teve conhecimento
do esquema e que se sentia traído, ainda que não tenha dito exatamente
por quem. Dito pelo não dito, a ausência entre os réus logo do chefe do
governo corruptor à época da vigência das mesadas a parlamentares é algo
que só mesmo o poder, a política e as brechas do direito podem explicar.
Quem não se lembra quando Lula classificou de “aloprados” os petistas
rastaqueras que foram pegos comprando um dossiê contra José Serra?
Com o mensalão é um pouco diferente. O vocabulário chulo dificilmente
será usado por Lula para se referir a seus velhos companheiros de projeto
de poder que ora respondem por corrupção ativa, corrupção passiva,
evasão de divisas, formação de quadrilha, gestão fraudulenta, lavagem
de dinheiro e peculato no mais alto tribunal do país
Até que ponto esta expiação que se clama para os réus do mensalão não
serve ao próprio PT, no sentido de reforçar o discurso da mesma linha dos
“aloprados”, ou seja, de uma banda podre que “traiu” o partido e seu grande
líder? No fim das contas, o “julgamento do século” tende a reservar para
José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e ex-grão-duques petistas que
tais um lugar na história na condição de aloprados com pedigree, fazendo
fumaça à podridão múltipla dos órgãos do velho Estado brasileiro, corrupto até a medula.
OPINIÃO &NOTICIA
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