NEM PARASITA, NEM PASSAGEIRO
Ser humano é ser micróbio
também
As pessoas não são somente pessoas. Há nelas um número enorme de
micróbios que as mantêm saudáveis
Revolucionários políticos viraram o mundo de cabeça para baixo. Já os
revolucionários científicos costumam virá-lo do avesso. E isso, quase
literalmente, está acontece com a noção – em termos biológicos – do
que quer dizer ser humano.
A ideia tradicional é que um corpo humano é uma coleção de 10 trilhões
de células, as quais por sua vez são produtos de 23 mil genes. Se os
revolucionários estiverem corretos, esses números subestimam a verdade
de modo radical, já que nas reentrâncias de todo ser humano, e especialmente
em suas entranhas, se aloja o microbioma: 100 trilhões de bactérias de várias
centenas de espécies, que somam 3 milhões de genes não-humanos. Os
Robespierres da biologia acham que essas outras espécies também
deveriam ser levadas em conta. Eles entendem que os seres humanos
não são organismos individuais, mas sim superorganismos feitos de
muitos organismos menores trabalhando em conjunto.
Pode parecer um disparate considerar genes e células de bactérias
como parte do corpo, mas os revolucionários têm um argumento bom
uma vez que os bichinhos não são nem parasitas nem passageiros. Na
verdade eles são sócios remidos de uma comunidade na qual o
“hospedeiro” humano é apenas um membro, ainda que o membro
dominante. Tal visão é cada vez mais popular: os periódicos
científicos mais importantes do mundo, Nature e Science, deram
grande espaço a estudos que defendem essa tese em meses recentes.
Um microbioma desarmonioso já foi associado a uma lista cada vez
maior de problemas: obesidade, desnutrição, diabetes (tanto do tipo
1 quanto do tipo 2), arteriosclerose, doenças cardíacas esclerose
múltipla, asma, eczema, doenças do fígado, várias doenças intestinais
(incluindo câncer de intestino) e autismo. Os detalhes costumam ser
obscuros, mas em alguns casos, tudo indica que os micróbios estão
produzindo moléculas que auxiliam a regular as atividades de células
humanas. Se esses processos degringolam, doenças ocorrem. Isso é
importante porque sugere que os médicos têm procurado no lugar
errado pela explicação dessas doenças, além de apontar para novas
vias de tratamento. Caso um microbioma descontrolado esteja causando
doenças, controlá-lo pode ser a chave para a cura.
OPINIÃO &NOTICIA
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