terça-feira, 14 de agosto de 2012

“Há quem passe pelo bosque e só veja lenha para fogueira.” (Leon Tolstoi)





O que importa é a experiência em prol do crescimento, não a punição, o castigo.



Dois náufragos estavam já havia uma semana numa ilha deserta. Abatidos pelo
 cansaço, estresse, sede e uma aguda fome, já pressentiam o pior. Um deles,
 mais desesperado, prostrou-se de joelhos à beira do mar e pôs-se a rezar, 
como já não fazia desde criança: 
 
- Meu Deus, me ajude por favor. Não quero morrer. Mande-nos socorro. Sei
 que não tenho sido um ótimo cristão, mas prometo que se for salvo serei
 uma pessoa melhor. Não serei mais um egoísta, não trairei mais minha mulher,
 não serei um maledicente, doarei todos os meus bens para instituições de caridade.

- Ei, para! Gritou o outro náufrago.
- Para de te comprometer que lá vem um barco. Que figura.!

Adeptos ou não de uma teoria ou crença, todos nós temos uma visão do 
universo e sobre os fenômenos da vida. Essa visão é que explica os fatos
 e influencia diretamente sobre nosso modo de pensar e agir. Para muitos o
 que vale é o esforço do homem. Ele é o senhor do seu destino,
 independentemente de qualquer coisa. Para outros, somos reféns do
destino, já nascemos com sorte ou azar, pouco ou nada importando nossos
 esforços. Muitos acreditam em milagres, na miraculosa intervenção divina
 em favor de nossas vidas. Outros ainda acham que o acaso é o senhor 
da vida e que procurar uma ordem ou razão superior para a vida é pura quimera.

Todas as crenças merecem respeito. Vejamos a visão espírita.

  Como funciona o universo?
  Ele é aleatório? Irracional?
  Muda conforme as circunstâncias?

Não, o universo não é aleatório, mas sábio e estável.

Em verdade, o universo é retributivo. Quer isso dizer que existem leis eternas
 e imutáveis que criam circunstâncias adequadas para a evolução espiritual,
 para que avancemos aprendendo. Uma dessas leis é a lei de causa e efeito.

A melhor explicação para esta lei está no evangelho: “a semeadura é livre,
 mas a colheita é obrigatória.”

Ou seja, nossas ações ecoam no universo que, por ser retributivo, devolverá
 à sua fonte de ação os efeitos - bênçãos ou sofrimentos - correspondentes.
 Não se planta pimenta para se colher morangos. A cada um segundo suas
 obras, ensinou Jesus.

A lei de causa e efeito está na base da Justiça Divina.

Não sem razão que Jesus advertiu Pedro, quando este quis reagir à sua prisão:
 “embainha tua espada Pedro, quem com a espada ferir, com a espada será ferido.”

Então você poderá me questionar: 

  Se é assim, por que muitos criminosos levam a vida numa boa? 
  Por que pessoas perversas não têm um fim com proporcional sofrimento? 
  Por que tantas pessoas de bem são vitimadas por padecimentos atrozes?

Ninguém, absolutamente ninguém escapa da Justiça Divina e neste conceito
 entram as provas e as expiações, assunto a ser tratado noutro momento.

Quando se pratica uma ação, desencadeia-se uma reação retributiva no universo.
 Ou seja, provoca-se um efeito que inicia curso em direção à sua fonte de ação.
 Quando, como e através do que ou de quem este efeito se concretizará ninguém
 sabe dizer. Certo, apenas, é que ele virá, disso não há qualquer dúvida.
Nem acaso, nem destino, retribuição.

Quanto a questão acima, importa entender que a Justiça Divina não se restringe
 ao plano material. Todos os dias, grupos mediúnicos acessam regiões de expurgo
 espiritual, onde os efeitos se fazem sentir sobre espíritos comprometidos com as
 leis divinas, que aprendem o preço das perversidades, do mal. De lá ecoam as
 vozes que descrevem a força da lei. Não, não é o inferno. Este conceito não está
 associado a um lugar geográfico, a chifres e chamas, mas ao estado de espírito
do ser, feliz ou infeliz com sua condição.

Por isso Paulo, o grande apóstolo, ensinou com precisão: “tudo posso, mas nem 
tudo me convém.”

Da mesma forma, mas em sentido oposto, quando se pratica o bem, o universo 
não conspira não. Ele retribui. Por isso, Emmanuel, o guia de Chico Xavier, ensinou:
 o bem que fazes é teu advogado em todo lugar. Esse o sentido do buscai e achareis,
 princípio crístico que tem correspondência ao karma das tradições budistas e
 hinduístas, que em seu conceito oriental, sânscrito, corresponde à acto ou acção.

Três esclarecimentos são importantes para compreensão da dinâmica da lei
 de causa e efeito: 
 
  Sobre as penas eternas; 
  Sobre a lei de compensação;
  Sobre o caráter não linear da lei de causa e efeito.

Primeiro, cumpre esclarecer que não existem penas eternas. Ninguém é
 condenado ao céu ou ao inferno e de lá não sai mais. Isso seria negar a
 bondade e misericórdia divina. 
 
Como viveria uma mãe no céu sabendo que seu amado filho foi condenado
 ao inferno eternamente? 
 
Essa interpretação serviu para impor a fé pelo medo. Está ultrapassada. 
Através de outra lei, a da reencarnação, o espírito tem sucessivas chances,
 recebendo um corpo, uma família, um trabalho e as circunstâncias de sua vida
, conforme “suas obras”. Esse conjunto de fatores e circunstâncias serão as mais
 adequadas à sua evolução. É sua nova chance. 
 
Por exemplo, o prepotente reencarnará para ser provado em situações
 humilhantes, terá fracassos, decepções e freios à sua vaidade, cruzará 
recorrentemente com pessoas prepotentes – até pela lei de afinidade -,
 para aprender a ser humilde, manso, simples. 
 
  O avaro:
- provará as necessidades, a pobreza, a perda de bens, para aprender o desapego. 
 
O egoísta:- será golpeado em sua individualidade e personalismo, provará a
 solidão, o isolamento, precisará da ajuda de grupos, de equipes, para
 aprender o valor do conjunto, do repartir, do pensar no outro. 
 
Cada um receberá do universo as condições ideais para que cresça. Na medida
 que se melhora, atrai pessoas e situações afins. Bem atrai o bem, mal atrai o mal.
 Logo, se aproveita sua nova chance, não precisará passar por tão duras provas 
e expiações. Assim é a dinâmica geral, com múltiplas variantes e combinações. 
Ou seja, não há penas eternas, a cada reencarnação, o aluno recebe as lições
adequadas a seu grau de evolução.

Outro esclarecimento é que a lei de causa e efeito não é linear. Ou seja, se 
você fez alguém perder um braço, não necessariamente você perderá um braço. 

Isso é lei do Talião: olho por olho, dente por dente. A lei de Deus é sábia e bondosa.
 O universo forja uma dinâmica onde o que importa não é devolver um castigo,

 uma punição, mas propiciar um crescimento. Quando Jesus advertiu Pedro
 para que embainhasse sua espada, referia-se ao valor moral de forma figurada. 
Quem pela espada (orgulho, por exemplo) ferir, pelo orgulho será ferido. A lei dá
 condições adequadas para que o espírito perceba e entronize, por sua própria 
vivência – maravilhosa ou tormentosa – as diferenças entre o bem e o mal para 
saber exercitar seu livre arbítrio. O que importa é a experiência em prol do 
crescimento, não a punição, o castigo.

Por fim, um derradeiro esclarecimento:
 
Ao contrário do que ensina o Budismo, o carma – resultado da lei de causa e
 efeito – não é irreversível. Deus, em sua bondade, permitiu-nos amenizar ou
 mesmo neutralizar o efeito que desencadeamos no universo através da lei de
 compensação. Podemos compensar nossos atos maus, com novos atos bons. 

Por isso que Gandhi palestrou com precisão, que um homem que ama neutraliza
 milhões que odeiam e Jesus assinalou que o amor move montanhas. Não se
 reportava a um acidente geológico, mas a montanhas de “pecados”, os carmas
 que geramos. Há quem pense que, sendo assim, pode fazer o que quiser e depois
 praticar a caridade para compensar. São muitas as mensagens do plano espiritual
 que vaticinam que o que vale é a intenção. Caridade interesseira é nula.

O espírita-cristão, na medida que conhece a dinâmica do universo, melhor
 compreende a vida e, embora falível, pensa mil vezes antes de praticar atos que
 prejudiquem a si, ao próximo, à sociedade, à natureza, pois sabe que dispara
 efeito no universo que irá alcançá-lo, cedo ou tarde. Portanto, o mal que faz a
 outrem a si mesmo se faz. Por isso, luta para ser uma pessoa melhor, compreende 
que a vingança tem efeito bumerangue e lhe atrasa a evolução, aprende a se resignar 
e não reclamar das dificuldades, sabe que não existe injustiça e que podemos plantar
 nosso futuro, semeando agora.

Avalie o que você recebeu do universo até este momento e poderás ter superficial
 noção sobre o que você semeou. Examine o que você está fazendo na atual vida e
 poderás vislumbrar a futura retribuição que receberás.

Ah, e se você um dia ficar ilhado e for socorrido, não seja ingrato, agradeça, pois 
embora o universo não seja rancoroso, é sábio e retributivo.


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