sábado, 21 de julho de 2012


SIRIA

O conflito se aproxima 

de sua conclusão

Chegada dos rebeldes ao centro do poder em Damasco é o sinal 

de que o mundo deve se preparar para uma Síria pós-Bashar Assad


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Em toda revolução, há um momento em que a maré se volta contra
 o regime. No Egito, ele veio em 28 de janeiro do ano passado, 
quando manifestantes ocuparam a Praça Tahrir e incendiaram 
a sede do partido no poder. Na Líbia, aconteceu em 20 de 
agosto, quando a população de Trípoli se levantou contra 
Muammar Khadafi. Na Síria, pode ter acontecido na última
 quarta-feira, 18 de julho, quando uma bomba atingiu o 
coração do comando militar da Síria.
Se o ataque mudar o equilíbrio de poder decisivamente contra 
o presidente Bashar Assad, será um feito muito positivo. 
Mais ou menos um ano após suas revoluções, tanto o Egito
 quanto a Líbia permanecem instáveis, e a Síria, que faz
fronteira com Iraque, Israel, Líbano, Jordânia e Turquia
 é uma parte extremamente complexa e crucial do Oriente 
Médio. Aqueles que desejam o bem aos sírios agora precisam
 se concentrar não apenas em como trazer a queda rápida 
de Assad do poder, mas também sobre como poupar a
 Síria pós-Assad de assassinatos e caos, e como evitar que 
a violência se espalhe por uma região inflamável.
O bombardeio do quartel-general da segurança nacional em
 Damasco deve enfraquecer o regime de várias formas. Ele
 feriu muitos e matou o ministro da Defesa e um ex-chefe militar.
 Pior ainda para o presidente foi a morte de Assef Shawkat,
 seu cunhado e uma das figuras mais poderosas do regime.
 Assad rapidamente preencheu suas posições, mas em um
país governado por um grupo mantido pela lealdade pessoal,
 os homens mortos não serão facilmente substituídos.
O fato do bombardeio se assemelhar a um trabalho interno
, exigindo inteligência e acesso profundo dentro do regime,
 também irá danificar a estrutura de comando das forças 
armadas e os serviços de segurança. A lealdade do exército –
 formado em sua vasta maioria pelos oficiais alauitas de Assad
 e soldados em sua maioria sunitas – sempre foi uma das
 fraquezas do regime. A explosão de uma bomba enorme
 de alguma forma contrabandeada para dentro do santuário
 vai semear desconfiança e suspeita em todos os níveis.
Especialmente nas zonas fronteiriças, a insatisfação e 
discordância são visíveis. Homs e Hama, terceira e quarta
 maiores cidades do país, são hostis a Assad. Damasco e
 Aleppo, as duas maiores cidades, têm sido menos explosivas
 porque muitos abraçaram a visão de que Assad é uma garantia
 melhor de estabilidade do que a alternativa. Agora que os
 combatentes rebeldes entraram na cidade, essa garantia
 já não parece clara.
O ataque também vai alterar cálculos no exterior. Nos últimos
 meses, a diplomacia tem se concentrado em um plano,
 supervisionado por Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU,
 para negociar um cessar-fogo eficaz sob o comando de uma
 equipe de monitores, e criar um governo de unidade interino. 
Mas, ao longo das últimas semanas, o plano de Annan, junto
 com muitos milhares de sírios, morreu. Os rebeldes, que
 agora se aproximam da vitória, não vão concordar com um
 cessar-fogo. As atividades dos monitores foram suspensas por
 causa dos combates. O país está devastado pela guerra civil,
 então não há perspectiva de montar um governo de unidade. 
Após a bomba desta semana, o perigo é que um desesperado
 Assad recorra a táticas cada vez mais extremas – arrasando
 bairros inteiros em Damasco com artilharia pesada, ou
 buscando provocar uma guerra regional, ou mesmo
 assassinando seu próprio povo com armas químicas.
A enormidade dessa perspectiva faz valer a pena tentar mais
 uma vez convencer Assad a encarar o desespero de sua
 posição e aceitar que a fuga da Síria é agora a sua melhor 
opção. A ameaça da justiça internacional, especialmente
 as advertências sobre seu status de pária se ele usar armas
 químicas, poderia ter alguma força. Mas só a Rússia tem 
grande influência sobre ele. O desejo de proteger um velho
 aliado, o medo de seus próprios rebeldes muçulmanos e a
 hostilidade aos apelos ocidentais para a mudança de regime
 levaram a Rússia a proteger o regime de Assad da pressão
 diplomática e das sanções econômicas.
Ao que parece cada vez mais provável que o presidente fuja, 
crescem também as chances de que a Rússia o abandone em
 troca de algum papel na Síria pós-Assad. Mas na ausência de
 uma mudança decisiva diplomática na direção certa, os governos 
ocidentais devem tentar dar um novo impulso ao esforço militar
 contra o Assad. A mais rápida maneira de fazer isso seria dar ajuda 
– como dinheiro e instrumentos de comunicações – à principal
 força rebelde, o Exército Livre Sírio (ELS). Os rebeldes já recebem 
armas e dinheiro do Catar e da Arábia Saudita com cooperação da
 Turquia, mas precisam de mais ajuda, pois, apesar de seus
 recentes reveses, o regime de Assad é fortemente armado com as
 melhores armas russas.
O ELS está longe de ser um grupo de anjinhos. Algumas de suas 
armas, sem dúvida, cairão nas mãos erradas, que possivelmente 
incluirão grupos de jihadistas. Encher a Síria de armas tornará o
 país mais difícil de governar quando Assad estiver derrotado
. Mas apoiar o ELS é provavelmente a maneira mais rápida de
 remover Assad do poder.
O que vem depois
Assad pode se manter no poder durante meses, ou o bombardeio 
pode derrubar o regime em uma queda rápida. De qualquer maneira
 agora é a hora de começar a se preparar para o dia em que a Síri
 finalmente se veja livre dele.
A Síria pós-Assad será um perigo para seu próprio povo e seus
 vizinhos. O derramamento de sangue motivado pelo sectarismo é 
um risco; as armas químicas mais soltas serão outro; e as marés de 
refugiados, um outro. A Síria poderia se tornar o foco de rivalidade
entre Irã, Turquia e o Mundo Árabe. A violência pode respingar em 
Israel ou se espalhar para o Líbano.
O mundo não pode eliminar esses perigos, mas pode amenizá-los. 
Dinheiro e planejamento são essenciais para ajudar a fundar um
novo governo. Diplomacia regional, com a Turquia e a Liga Árabe
, serão necessárias para apaziguar os ânimos. Forças de paz e
 monitores podem ter uma papel nesse processo. Isto exige, acima
 de tudo, a diplomacia presidencial dos Estados Unidos. Em 
temporada de eleição, os pensamentos de Barack Obama podem
 estar em outro lugar, mas este lugar perigoso precisa de alguma atenção.

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