Corremos o risco de uma
pandemia de gripe aviária?
Divulgação de estudo sobre mutações causa temor sobre atos de
terrorismo biológico
Apenas algumas poucas mutações ou uma potencial pandemia? Em
um artigo publicado na revista Science, no fim de junho, uma equipe
de cientistas revelou como conseguiu, através experimentos com furões
, alterar geneticamente o vírus da gripe aviária (H5N1) para que ele fosse
capaz de se espalhar por meio de tosses e espirros, sendo transmissível
pelo ar. Foram seis meses de discussão até que a revista revolvesse
publicar o estudo. Aos olhos de alguns críticos, os detalhes do texto
são a receita para uma perigosa arma biológica. Por essa razão, um
conselho científico chegou a sugerir a censura dos dados.
As mutações foram criadas por um laboratório da Holanda que está
tentando compreender como o vírus da gripe aviária, que normalmente
não é contagioso entre as pessoas, pode sofrer alterações no ambiente
selvagem e começar a se espalhar em seres humanos. Mas foi só o
anúncio do experimento sair para começarem a ser publicadas
manchetes assustadoras sobre a “super gripe”.
O homem no centro da polêmica é o virologista holandês Ron Fouchier.
Ele mostrou que apenas um punhado de mutações, mais especificamente
cinco, poderia transformar o vírus em uma ameaça pandêmica. Fouchier
alega que compreender essas alterações é essencial para se preparar
para uma possível pandemia.
Para submeter o estudo à Science, o pesquisador teve de obter uma
autorização especial do governo holandês, que só é normalmente
utilizada para a exportação de tecnologias que poderiam ser usadas
como armas. Ele aceitou a condição, mas sob protesto.
O estudo foi financiado pelo governo dos EUA, mas assim que a polêmica
em torno dos dados começou, um conselho consultivo do país sugeriu
que os detalhes fossem mantidos em segredo. Membro da comissão,
o microbiologista da Universidade de Stanford David Relman ainda acha
que é uma má ideia revelar publicamente as mutações que podem fazer
o vírus ser transmitido pelo ar. Relman reconhece que, em teoria, o
trabalho traz benefícios, mas acredita que, a curto prazo, eles são
superados pelos riscos – não só a ameaça do bioterrorismo, mas
também acidentes de laboratório simples, que poderiam deixar
escapar uma gripe mutante.
O infectologista Edmilson Migowski, diretor do Instituto de Pediatria
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra, no entanto,
que, do ponto de vista histórico, pandemias surgem em intervalos longos,
entre dez e 30 anos. A gripe espanhola aconteceu entre 1918 e 1919.
Depois foi a vez da gripe asiática, entre 1957 e 1958, da gripe de Hong Kong,
entre 1968 e 1969, e por fim da gripe suína, denominada oficialmente gripe
A (H1N1), entre 2009 e 2010. É claro que um cenário de terrorismo
biológico poderia alterar o quadro, mas, para Migowski, não divulgar dados
de uma pesquisa é ainda mais arriscado:
“Quem trabalha com guerra biológica é capaz de descobrir os maiores
segredos, de furar qualquer segurança. Manter em sigilo o estudo só
vai favorecer quem atua na clandestinidade. Quem é do bem pode, numa
situação de omissão dos dados, não ter acesso a informações relevantes para
novas pesquisas”.
Migowski explica que o vírus H5N1 vem se comportando em adultos com
Migowski explica que o vírus H5N1 vem se comportando em adultos com
elevada letalidade (de 50 a 70% nas pessoas que desenvolveram a gripe).
Embora haja desvantagem do ponto de vista individual, em termos de
população, o vírus não consegue se perpetuar, pois o infectado fica acamado,
circula pouco, o que diminui a capacidade de proliferação da doença:
“Quanto maior a replicação do vírus, em diferentes hospedeiros, maior
a possibilidade de que se desenvolva um vírus mutante. Uma mutação
poderia dar a ele maior transmissibilidade. Isso realmente seria
preocupante”.
Para o pneumologista e alergista da Santa Casa da Misericórdia do
Para o pneumologista e alergista da Santa Casa da Misericórdia do
Rio de Janeiro, José Roberto Zimmerman, não há qualquer registro
no mundo que dê conta de preocupação com pandemia de gripe aviária.
Na opinião do especialista, o artigo da Science não tem sequer relevância
médica:
“Não há eminência de acometimento humano de gripe aviária. Inclusive
os furões sobreviveram, toleraram as mutações. A gripe suína (H1N1) é o
que tem efetivamente preocupado os médicos pelo surto no Sul do Brasil,
que já matou centenas de pessoas”.
OPINIÃO &NOTICIAS
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