Durante a Eco 92, primeira conferência sobre o meio ambiente desde
Estocolmo 72, representantes de 108 países reuniram-se no Rio de Janeiro
para tentar diminuir a degradação ambiental. O encontro trouxe esperança
de mudanças significativas para o futuro do planeta. Vinte anos depois,
quando a cidade está prestes a receber mais uma Conferência das Nações
Unidas em Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, fica a pergunta: o que
realmente mudou entre as duas reuniões? Que efeitos práticos resultaram da
Eco 92 e o que esperar da Rio+20?
O especialista do Instituto Millenium, Mario Ernesto Humberg, consultor
e palestrante sobre mudanças empresariais, gestão de crises, comunicação
e ética empresarial e coordenador do PNBE Pensamento Nacional das Bases
Empresariais, esteve na Eco 92. Para ele, a principal mudança foi uma maior
conscientização da sociedade em relação a questões ambientais. Afinal, foi a
Eco 92 que popularizou o conceito de desenvolvimento sustentável e contribuiu
para disseminar a ideia de que os danos ao meio ambiente eram majoritariamente
de responsabilidade dos países desenvolvidos.
“Houve de fato uma conscientização em torno de temas como economia de
energia, reciclagem, proteção das florestas”, lembra Humberg. “Mas do ponto
de vista de mudanças no mundo, creio que se avançou muito pouco em
relação ao que foi discutido, principalmente na redução do consumo de
combustíveis fosseis e gás carbônico”.
Na época, os Estados Unidos, maiores consumidores de combustível no
mundo, não desejaram fazer nenhum acordo e, portanto, não houve esforço
para reduzir a emissão de gás carbônico. “Houve apenas acordos pontuais,
como a redução de descarga de resíduos no mar, sendo que os oceanos
precisavam de algo mais efetivo”.
Por outro lado, Humberg viu um grande avanço na legislação da maior parte
dos países, principalmente no setor privado. “Hoje são raros os problemas
das áreas industriais. De vez em quando há vazamentos, mas a maior parte
toma cuidado”.
A necessidade de fazer um balanço dos últimos vinte anos é um dos pontos que
sustentam as conferências ambientais. O advogado e professor na Universidade
Estácio de Sá, André Esteves, acredita que o legado da Eco 92 precisa ser
discutido na Rio+20.
“Uma das propostas desse evento deveria ser discutir o que aconteceu 20 anos
atrás, o que andou bem ou não, para gerar um documento para que a Rio+20
tivesse um ponto objetivo para validar e reorganizar a questão ambiental”,
diz. “Trazer à tona questões ligadas a questões climáticas, crescimento da
população etc. A questão da economia verde é fundamental na medida em
que ela precisa encontrar soluções para compatibilizar economia e
ecologia, de que maneira conseguimos fazer a economia crescer conciliando
com a questão ambiental”.
Já para Fernando Lyrio, chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do
MMA, a Eco 92 foi um momento de conjunção política muito forte.
“Embora haja dificuldade de se implementar as propostas, o evento é
até hoje referência dos processos políticos e isso não está perdido
. Os tratados e convenções são bons mas faltam ser cumpridos.
A Rio+20 se propõe a fazer o balanço dessas lacunas”, destacou ao
site Planeta Sustentável.
Lyrio acredita que os tratados e convenções discutidos nos últimos
20 anos foram bons, mas faltam ser cumpridos. “A Rio+20 se propõe a
fazer o balanço dessas lacunas”, afirmou.
Então, o que fazer para que, dessa vez, os tratados sejam cumpridos?
“A única coisa que pode despertar é a pressão dos cidadãos”, avalia
Humberg. “Não há órgão superior com força de decisão unilateral para
fazer cumprir um acordo internacional. Só a pressão dos cidadãos é
que conseguiria”.
A metodologia da ONU, que dá aos países com dimensões diferentes
capacidade iguais de votação, dificulta a implementação rápida dos acordos,
acredita André Esteves. “São 194 países, é muito difícil buscar o consenso
nesses países com realidades e condições ambientais diferentes e uma
metodologia que tem mudado pouco. Alguns países tem grande influência
na organização do evento, mas não tem interesse em mudar as coisas”, explica.
A crise mundial também tem chances de impedir resultados mais efetivos na
Conferência. “Tenho impressão de que os resultados da Rio+20 serão menos
importantes do que da Eco 92, porque momentos de crise não são muito
favoráveis para tomadas de decisões e novos paradigmas. Não tenho
expectativas de resultados, mesmo que sempre se consiga algo. Minha
expectativa é a educação e a consciência de preservação. É mais o aspecto
da sociedade do que das convenções”.
Opinião e noticia
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