Depois de beber dois copos de vinho ou cerveja, todo e qualquer cidadão
tem o direito de não soprar o bafômetro em alguma barreira da Lei Seca.
Ainda assim, ele pagará multa e responderá por esta atitude. Também o
investigado por uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI,
mas pode chamar de CPI) tem o direito de se calar para não gerar provas
contra si mesmo. O senador Demóstenes Torres adotou o mesmo
princípio do bafômetro: não soprou para não se comprometer ainda mais.
O senador abriu o verbo na Comissão de Ética do Senado que investiga
sua quebra de decoro – mas não incrimina – por associação com o bicheiro
Carlinhos Cachoeira. Mas preferiu não abrir o bico na CPI. Demóstenes
é legal – no sentido jurídico – mas não é ético. Não é o senador que o país
imaginava conhecer há alguns meses.
Já o ex-presidente da República não precisou beber nada para nos
surpreender. Com o bafo de quem ainda está embriagado pelo poder,
Lula procurou o ministro do Supremo Tribunal Federal para sugerir
que o escândalo do mensalão fosse julgado somente depois das eleições.
Tudo faz sentido quando Gilmar revela que a compensação – o chorinho
no medidor de uísque – seria a proteção que Gilmar receberia na
CPI do Cachoeira, caso quisessem incriminá-lo pela viagem que fez a
Berlim com o senador do parágrafo acima – o tal do Demóstenes.
É importante lembrar que Mendes viajou com aquele Demóstenes
que imaginávamos e não com o corrupto que ora conhecemos. Os dois
se encontraram na cidade checa de Praga – nome, aliás, muito
adequado ao que Demóstenes hoje representa.
Quando bebem além da conta, alguns ficam agressivos, outros
mulherengos, uns desinibidos – ou mesmo deprimidos. Mas todos,
sem exceção, tornam-se chatos, desagradáveis e repetitivos.
Gilmar estranhou a mensagem de Lula: “Entrava várias vezes no
assunto CPI”, revela.
Com colarinho e na pressão
Saindo da bebida para o jogo, mais vale apostar as fichas na abordagem de Lula – porque faz todo o sentido – do que pensar que Gilmar esteja blefando com as cartas que tem na mesa. Seria uma ficção muito além da capacidade de um ministro do Supremo – não que sejam limitados intelectualmente. Se houve o encontro, Lula procurou Gilmar. Para pressioná-lo.
Se essa conversa existiu, Lula errou na dose e falhou como o estrategista que acreditou que a CPI do Cachoeira salvaria seu partido da “cascata” do mensalão. Aliás, esses são dois episódios que trouxeram à boca dos brasileiros de bem o gosto amargo que só a mentira – e às vezes a “marvada” – pode proporcionar.
Gilmar denuncia ainda que Lula fez campanha para associar seu nome ao esquema do traficante – de influências – Carlinhos Cachoeira. Foi essa atitude que o fez colocar a boca no trombone.
Sabe-se que as CPIs têm poder de investigação para juntar provas que, mesmo ao fim de muitos anos – basta considerar o mensalão – acabam, enfim, julgadas pelo Supremo. A utilidade maior de uma CPI é, certamente, o oba oba que provoca, principalmente em anos de eleições. Ainda assim, com efeito retardado, a CPI do mensalão tira o sono do ex-ministro José Dirceu. Lula teria dito a Gilmar que Dirceu estaria desesperado. Isso já bastaria para uma CPI valer a pena.
No mais, este modelo criado na Inglaterra no século XVI, tem sopro de vida no Brasil de 120 dias. CPI investiga e convoca testemunhas mas não condena, quebra o sigilo bancário e telefônico mas não prende. Aqui, continua sendo coisa pra inglês ver…
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