domingo, 12 de junho de 2011

Ratko Mladic nega participação em massacre



O ex-chefe militar dos sérvios da Bósnia, Ratko Mladic, declarou não ter “nada a ver” com o massacre de Srebrenica em 1995, disse neste domingo, 29, à imprensa, seu filho, Darko.
Mladic, de 69 anos, um dos criminosos de guerra mais procurados do mundo, foi preso na última quinta-feira, 26, após 16 anos foragido. Ele foi encontrado em um vilarejo no norte da Sérvia, onde vinha vivendo com nome falso. O general é acusado de ter ordenado e coordenado, durante a guerra na Bósnia, o massacre de pelo cerca de 8 mil meninos e homens muçulmanos na cidade de Srebrenica, em 1995 – a maior atrocidade cometida na Europa desde a Segunda Guerra.
“Ele declarou que não tinha nada a ver com isso” afirmou Darko Mladic, que falou com a imprensa ao deixar a unidade de detenção do tribunal sérvio para criminosos de guerra, onde encontrou-se com o pai. Segundo o filho, Mladic indicou que deu a ordem em Srebrenica “de evacuar em primeiro lugar os feridos, as mulheres e as crianças, e depois os combatentes”.
Ele teria insistido que “não tinha nada a ver com isso”, nem com o que “pode ter acontecido pelas suas costas”, disse Darko.
A rígida vigilância de possíveis ajudantes e familiares levou à captura de Ratko Mladic em uma casa bagunçada em uma fazenda, onde o fugitivo, suspeito de crimes de guerra foi encontrado sozinho, cercado de remédios.
“Estabelecemos diversos caminhos, que esperávamos que nos levassem a Mladic: seus companheiros dos tempos de guerra, um grupo de sérvios da Bósnia que moravam na Sérvia que foram ligados a ele no passado e, finalmente, a família dele”, disse o ministro Rasim Ljajic, encarregado de localizar criminosos de guerra fugitivos. “Uma dessas pistas finalmente nos levou a Mladic”, afirmou.
Autoridades de segurança que monitoravam as comunicações entre os ajudantes de Mladic descobriram, várias semanas atrás, que familiares estavam ajudando o fugitivo a se esconder, 16 anos depois do fim da guerra da Bósnia, disse também neste sábado uma autoridade envolvida na prisão dele.
Pista antiga
Ljajic disse que há vários anos recebeu uma informação sobre a localização de Mladic, que levou à mesma casa onde ele foi preso. “Um homem telefonou há algum tempo e pediu para falar comigo e disse que, em um vilarejo perto de Zrenjanin, ele havia visto um carro Golf azul, da Volskwagen, com a placa número ‘tal’ e que ele pensou ter visto Mladic dentro do carro”, disse o ministro.
“Eu passei toda a informação para as agências de segurança, que continuaram a cuidar do caso. Mas aquela pista esfriou.”
Investigações
A autoridade, que não quis que seu nome fosse divulgado, disse que agentes sérvios souberam recentemente que eles estavam chegando perto de Mladic quando perceberam que um dos seus possíveis ajudantes deu diversos telefonemas e fez repetidas viagens para um vilarejo no nordeste da Sérvia. “Naquele momento soubemos que algo estava acontecendo e que provavelmente o pegaríamos logo”, disse a autoridade à agência Reuters. “Aumentamos o monitoramento daquele suspeito e ele nos levou ao general.”
Ele comparou a operação aos métodos utilizados pela inteligência dos EUA na perseguição a Osama bin Laden no Paquistão. “A vigilância eletrônica foi essencial. Nós também reduzimos o número de agentes envolvidos, para minimizar a probabilidade de vazamentos”, disse.
Durante a sua prisão no vilarejo de Lazarevo, a cerca de 100 km de Belgrado, Mladic estava armado com duas pistolas, que não usou.
“Mladic estava levando uma vida isolada, ele praticamente nunca saía do seu esconderijo, raramente abria as janelas, o quarto estava uma bagunça, com muitos remédios e comprimidos em cima da mesa”, disse Ljajic. “Ele estava se automedicando. Havia um celular velho, que ele não usava”, completou. “Ele tentou se esconder, saindo de perto da janela, quando viu alguém entrando no jardim, na esperança que a polícia prestasse atenção em uma casa perto da casa onde ele estava”, disse Ljajic.
O presidente da Sérvia, Boris Tadic, disse que a investigação sobre o general se estenderá a qualquer pessoa que possa tê-lo ajudado a escapar da Justiça nos últimos 16 anos. Em entrevista à BBC, Tadic afirmou ainda que Mladic será enviado ao Tribunal Criminal Internacional para a Antiga Iugoslávia, em Haia, na Holanda, mesmo com o eventual recurso de seus advogados para evitar a extradição.
‘Quadro completo’
“Nos próximos dias, nós teremos um quadro completo do que ocorreu nos últimos dois anos e meio, e até mais, nos últimos 16 anos”, disse o presidente à BBC. “Para nós, isto será muito, muito importante”.
Tadic disse que as investigações irão atrás de qualquer ajuda dada a Mladic por integrantes das forças armadas ou da polícia da Sérvia no tempo em que esteve foragido. Segundo o presidente, todos o que o tenham protegido serão processados.
Embora as famílias da vítimas de Srebrenica tenham ficado aliviadas com a prisão de Mladic, moradores de áreas sérvias da Bósnia ficaram descontentes com a detenção. O general é tratado como um mito em meio a muitos sérvios de extrema-direita. Após a prisão, cerca de 2 mil pessoas fizeram um protesto no antigo posto de comando de Mladic, em Pale.
O presidente sérvio afirma que, embora o general tenha conseguido inicialmente um apoio considerável de algumas autoridades, isto se enfraqueceu depois da saída do poder do ex-presidente Slobodan Milosevic, em 2000. Segundo Tadic, os esforços para encontrar o general foram intensificados desde que ele próprio assumiu a Presidência, em 2004, mas o grande tamanho da família do ex-comandante militar acabou frustrando várias vezes as tentativas de pegá-lo.
“Ele tem muitos, muitos parentes, não somente na Sérvia, mas também em outros países da região – na Bósnia, na Macedônia e em outros países”, afirmou o presidente. “Isto estava criando dificuldades reais para investigar o caso”.
Extradição
Mais cedo, a porta-voz da Justiça Sérvia Maja Kovacevic disse a jornalistas que a saúde de Mladic é boa o suficiente para que ele seja extraditado.
O general se recusou a receber uma cópia do indiciamento do tribunal, segundo afirmou Kovacevic. Depois disto, o tribunal determinou que as condições para a sua transferência foram cumpridas, dando prazo até a próxima segunda-feira para apelar.
O advogado de Mladic, Milos Saljic, confirmou que um recurso será apresentado na segunda. O juiz terá três dias para deliberar a respeito, mas o correspondente da BBC em Belgrado Mark Lowen afirma que a decisão deverá sair antes disso.
A mulher do general, Bosiljka, e seu filho Darko foram até o tribunal para visitá-lo. Saljic disse que esta foi a primeira reunião da família em dez anos. Darko disse a jornalistas que seu pais era inocente e não apresentava condições de ser extraditado para Haia.
Karadzic
Enquanto isto, o promotor-chefe do Tribunal Criminal Internacional para a Antiga Iugoslávia, Serge Brammertz, disse que cogita colocar Mladic em julgamento junto do líder político sérvio-bósnio Radovan Karadzic, que também está preso.
Karadzic foi preso em 2008 e está sendo julgado desde 2009. Correspondentes afirmam que esforços para colocar ambos os réus em um julgamento conjunto causará atrasos nos procedimentos, pois Mladic não estará pronto para ser julgado ainda por vários meses.
Acredita-se que Mladic, que viveu livremente na capital sérvia, Belgrado, tenha se escondido da Justiça depois da prisão do ex-presidente da Iugoslávia Slobodan Milosevic, em 2001. Ele morreu em 2006, enquanto era julgado em Haia.

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